• Saltar para o menu principal
  • Skip to main content
Logo Rostos da Aldeia

Rostos da Aldeia

Valorizar as aldeias de Portugal

  • Aldeias
  • Pessoas
  • Loja
  • Sobre
  • Show Search
Hide Search
Home/Viana do Castelo/Bravães/Celeste Silva, a artesã do linho
Celeste Silva

Celeste Silva, a artesã do linho


Nasceu e cresceu na aldeia de Bravães, habituou-se à lida no campo e tem saudades dos tempos em que o trabalho do linho era, também, uma festa. Hoje em dia, a festa só existe em recriações, mas, no seu dia a dia, o linho está sempre presente. Gosta, sobretudo, de partilhar tudo o que viveu e o tanto que sabe. Eis o seu testemunho.

Ciclo do linho
Ciclo do linho ©Filipe Morato Gomes

“O ciclo do linho dá muito trabalho, mas é uma delícia. É como a vida.”

Chamo-me Celeste Silva e sou daqui, de Bravães. Nasci, fui batizada aqui, fiz a primeira comunhão, tudo. Casei cá também e batizei todos os meus filhos. Foi tudo ali no mosteiro. Gosto muito da minha terra. Gosto da nossa gente. Somos unidos. Aqui, basta abrir a boca para pedir ajuda, aparece logo alguém.

Nunca emigrei. Só fui a França ver o meu marido, que teve um acidente, mas vim-me embora logo. Chorava todos os dias. Não estava lá bem. Ele foi para lá para ganhar um dinheirinho, para fazermos uma casinha, quando ainda não morávamos aqui. Mas pronto, cá estamos, na paz do Senhor. Não se deve nada a ninguém. A gente governa-se com o pouco e o tareco.

Celeste Silva
Celeste Silva na sua casa em Bravães ©Tiago Cerveira

Somos unidos. Aqui, basta abrir a boca para pedir ajuda, aparece logo alguém.

Celeste Silva

Temos seis filhos. Uma está em Andorra, os outros estão por cá, mais ou menos. Já estão todos criados. Agora estou eu, velhota, e o meu marido a precisar muito de mim. Não o posso deixar sozinho.

Gosto muito do trabalho do linho. E gosto sempre de falar sobre ele e de mostrar como se fazia. Dá muito trabalho, é verdade. Ainda há quem faça, mas já só por gosto. Já não é uma atividade económica como antes foi. 

Celeste Silva
Celeste Silva demonstrando o ciclo do linho ©Filipe Morato Gomes

Aliás, a agricultura está a desaparecer aqui da aldeia. Antes também fazíamos sementeiras de milho. Mas agora já quase ninguém cultiva como dantes. Nem milho, nem nada. Há umas famílias que ainda fazem alguma coisa, mas muito pouco. Cada um tem a sua vida. Já não é como antes.

Hoje em dia, o linho que se vê é mais em paninhos, camisas, cortinas. Mas nós, cá, usávamos camisas de linho para os dias de festa.

Houve uma vez, em 1994, em que fizemos aqui uma recriação histórica, o Linhar. Ainda tenho a página do Jornal de Notícias e fico sempre contente de olhar para ela — na fotografia aparece a minha avó, a mãe da minha mãe.

Recortes de jornal sobre a ciclo do linho em Bravães

Recortes de jornal sobre a ciclo do linho em Bravães ©Filipe Morato Gomes

Fotografias do ciclo do linho em Bravães

Fotografias do ciclo do linho em Bravães ©Tiago Cerveira

Fotografias do ciclo do linho em Bravães

Fotografias do ciclo do linho em Bravães ©Tiago Cerveira

A apanha do linho era sempre um momento de festa. Havia concertina. Alegria. Aproveitava-se o trabalho para fazer a festa. As concertinas começaram a aparecer quando vieram os ranchos folclóricos. Aqui em Bravães só havia uma pessoa a tocar.

Foi por essa altura que fiz a primeira entrevista, com a Maria Cerqueira, para a RTP. Havia a Feira do Linho em Ponte da Barca, que se manteve durante muitos anos. Premiavam-se os produtores, o melhor produto. Era uma coisa a sério.

Uma vez, convidaram-me na escola, ali à beira do mosteiro, para mostrar às crianças como se fazia. Levei-as ao caminho onde tenho terreno. Mostrei-lhes como se fazia a sementeira. Isto foi nos anos 90. Aliás, as professoras e os alunos vieram cá muitas vezes, quiseram acompanhar o processo. Tiraram fotos e escreveram tudo. Depois deram-me, como se fosse um livrinho. E eu guardo tudo, com muito amor.

Celeste Silva
Celeste Silva demonstrando o ciclo do linho ©Tiago Cerveira

Primeiro, lançavam-se as sementes à terra. Levávamos as sementes no regaço, dentro do avental. Depois, mexia-se a terra com o engaço, para cobrir. O linho cresce, dá flor, depois seca. Fazem-se os molhinhos e espadela-se. A estopa cai para o chão e apanha-se — nada se desperdiça.

O arranque é feito depois de muita monda e muita rega. Quando se arranca o linho da terra, separa-se logo a semente da planta, que nós chamamos de baganha — uma bolinha da semente, que é a que vai à terra outra vez. Fazemos essa separação no repanso, isto é, num crivo. Depois a planta seca. Quando seca, vai para o engenho, ali no rio. Era macerada. A planta era partida e separavam-se as partes mais duras da fibra.

Celeste Silva demonstrando o ciclo do linho

Celeste Silva a demonstrar a arte de fiar o linho ©Tiago Cerveira

Celeste Silva

Roca usada para fiar o linho ©Tiago Cerveira

Os homens faziam essa parte, porque tinham mais força. Depois enfeixava-se o linho e levava-se para a água, em molhos maiores. Ficava ali, numa poça, a curtir uns oito dias.

Depois vem a fase de bater o linho, antes de fazer o fio. É um processo de limpar as impurezas, para as mulheres poderem fiar. Chamava-se “limpar a vareja”. Este aqui é o sadeiro, para fazer a espadela. A espadela já deixava o linho limpinho. Passava-se no pente e já estava pronto para fiar, com a roca e o fuso. Enrolava-se no fuso, fazia-se a maçaroca, ia ao sarilho, faziam-se as meadas. E, por fim, à dobadoura, para se fazerem os novelos. E estava pronto para depois ser usado no tear.

Celeste Silva
Celeste Silva fotografada na sua casa em Bravães ©Filipe Morato Gomes

A gente também fazia o tecido cá. Havia casas com teares. As raparigas faziam o seu pano, porque o tecido não abundava. Com o linho fazia-se a roupa de trabalho. Havia o linho mais fino e o mais grosso — este último, para os sacos e para as coisas mais rudes.

Nas festas do concelho, no cortejo de São Bartolomeu, a freguesia de Bravães representava sempre o ciclo do linho. É o que mais nos identifica. Começámos a levar carros, muita gente. Representávamos tudo: lançar a semente, arrancar, espadelar, fiar, tecer.

O ciclo do linho dá muito trabalho, sim. É preciso semear, tratar, colher. Mas é uma delícia. É como a vida. É preciso ter a terra pronta e um bom coração. E as coisas florescem. Agora são mais as recordações. Mas elas estão bem vivas na minha memória.

Mais sobre Bravães

Vista aérea de Bravães

Bravães, a aldeia dos gaiteiros

Em Bravães, freguesia do concelho de Ponte da Barca, a história continua a escrever-se com o som do sino, o cheiro do alecrim e a vontade firme de manter vivas as tradições. A romaria de São Gregório, a bênção dos instrumentos musicais, as gaitas de foles e os ensaios improvisados no átrio da antiga escola fazem parte de um calendário afetivo onde fé, cultura e comunidade se cruzam. Entre os que sempre cá estiveram e os que escolheram ficar, há um lugar que se renova sem se esquecer de quem é.

Ler Artigo Bravães, a aldeia dos gaiteiros

Rafael Freitas

Rafael Freitas, o arquiteto gaiteiro

Pai, arquiteto, músico autodidata, é o rosto por trás da oficina de gaitas de foles de Bravães, em Ponte da Barca. Entre aulas, construção de instrumentos e encontros de música tradicional, Rafael promove a cultura local como ferramenta de inclusão e pertença, com raízes fundas no território que o viu nascer.

Ler Artigo Rafael Freitas, o arquiteto gaiteiro

Stephanie Loison

Stephanie Loison, a imigrante

Francesa de origem e herbalista por vocação, Stephanie Loison trocou a agitação de Londres pela serenidade da aldeia de Bravães, onde vive desde 2020. Atraída pela natureza e pelo ritmo mais lento da vida, integrou-se na comunidade através da música, das plantas e do yoga. Encontrou nas tradições locais e nas pessoas que a acolheram um novo sentido de pertença. “É aqui que quero estar”, diz, com a certeza de quem reencontrou o seu lugar no mundo.

Ler Artigo Stephanie Loison, a imigrante

Professor Jaime Ferreri

Jaime Ferreri, o professor

Professor, autodidata, contador de histórias e homem de mil ofícios, Jaime Ferreri nasceu em Bravães há quase 80 anos e por ali ficou — entre a paixão pelo ensino, a memória da guerra colonial e o amor pelas tradições da terra. Vive só, mas nunca quieto: escreve peças, toca caixa, organiza encenações populares e edita livros.

Ler Artigo Jaime Ferreri, o professor


Com o apoio de:

Logo dstelecom

Por Filipe Morato Gomes 16/08/2025
Mais sobre Bravães, Pessoas, Viana do Castelo

Mais aldeias de Portugal

Footer

  • Facebook
  • Instagram
  • YouTube

Copyright © 2025 · Associação Rostos da Aldeia · Pela valorização das aldeias de Portugal.

Política de privacidade · Contactos