• Saltar para o menu principal
  • Skip to main content
Logo Rostos da Aldeia

Rostos da Aldeia

Valorizar as aldeias de Portugal

  • Aldeias
  • Pessoas
  • Loja
  • Sobre
  • Show Search
Hide Search
Home/Bragança/Palaçoulo/Francisco Cangueiro, o cuteleiro escultor
Francisco Cangueiro

Francisco Cangueiro, o cuteleiro escultor

O gosto e o talento para esculpir começaram numa fábrica de marcenaria, mas cedo chegou às facas. Francisco Cangueiro começou a trabalhar numa das fábricas da aldeia, mas acabou por sair e por se dedicar às peças de coleção, já há 41 anos. O processo não tem nada de industrial. E tem tudo de artístico. Já vendeu falcatas a valer mais de 2.500 euros. Eis o seu testemunho.

Francisco Cangueiro
Artesanato Cangueiro, em Palaçoulo @Tiago Cerveira

“Isto é uma paixão que sempre esteve comigo”

Sou o Francisco Cangueiro, tenho 41 anos de coletado e sou cuteleiro em Palaçoulo. Comecei ainda antes de me tornar empresário, mas não há uma data certa para quando tudo começou – isto é uma paixão que sempre esteve comigo. Desde pequeno andava com uma navalha no bolso, a picar paus. Não era trabalho, mas era gosto. Há coisas que se aprendem, claro – como fazer uma navalha. Mas há outras que não. O gosto pelas peças de coleção, pelas peças emblemáticas, isso já tem de vir com a pessoa. É uma virtude.

Sempre tentei fazer diferente. Por exemplo, agora estou a acabar uma encomenda para um chef em Leiria – uma faca em aço damasco, com cabo em corno de anho. Só falta gravar o nome: chef Carlos. Aqui em Palaçoulo ninguém faz aço damasco. Estas não são umas facas quaisquer: são peças de arte. Claro que não têm o preço de uma faca de cozinha feita em fábrica, que se vende a 10 euros. Esta custa 250. Mas são coisas incomparáveis.

Francisco Cangueiro
Francisco Cangueiro @Tiago Cerveira

Trabalho também muito com navalhas. Tenho encomendas de colecionadores, por exemplo, uma navalha com saca-rolhas. Tenho de adaptar tudo de raiz — aqui não há peças pré-fabricadas. Tudo é feito artesanalmente, desde o início. Uso materiais fora do comum: micartas, madeiras estabilizadas com resina epóxi, corno de veado, ébano, marfim… Cada cabo é único. Só o bloco de micarta já custa 30 euros — e dá para um cabo apenas.

Gosto de fazer coisas diferentes, mas também é preciso ter navalhas para todas as carteiras. Tenho desde peças mais simples, até navalhas talhadas, falcatas, peças únicas para colecionadores e amantes da arte.

Francisco Cangueiro

Tenho peças com lâminas em aço damasco para facas de presunto, falcatas com cabeça de carneiro, de cavalo, de lobo. Cada uma com o seu simbolismo. Também gosto muito de talha. Durante anos fiz arte sacra: ceias de Cristo, santos… Vendi bem, durante muito tempo. Mas depois veio o IKEA e as mobílias lisas, e a coisa ficou fora de contexto. Adaptei-me — comecei a aplicar a talha na cutelaria, nas navalhas, nas falcatas. A cutelaria é um mundo diferente, cheio de possibilidades. É preciso é ter ideias.

Francisco Cangueiro
Francisco Cangueiro @Tiago Cerveira

Palaçoulo é uma terra de cutelaria. Trabalhei três ou quatro anos na FILMAM, uma fábrica onde cada operário fazia só uma parte. Depois segui por conta própria. E já lá vão 41 anos. Gosto de fazer coisas diferentes, mas também é preciso ter navalhas para todas as carteiras. Tenho desde peças mais simples, até navalhas talhadas, falcatas, peças únicas para colecionadores e amantes da arte.

Faço muitas feiras, cá e lá fora. Em Madrid, por exemplo, vendemos tudo o que levámos. A minha mulher foi com o carro cheio para Lisboa. Temos um armazém para as feiras do Sul – não vale a pena andar sempre a carregar tudo. Somos só nós os dois. Às vezes, as minhas filhas também ajudam. E não é só para levarem o dinheirinho! (risos).

Francisco Cangueiro

Francisco Cangueiro @Tiago Cerveira

Francisco Cangueiro

Francisco Cangueiro @Tiago Cerveira

Francisco Cangueiro

Francisco Cangueiro @Tiago Cerveira

Vivo aqui, em Palaçoulo. Tenho cá duas filhas e duas netas. Só mulheres à minha volta! Também tenho um filho, mas está em Espanha. A mulher é enfermeira e ele abriu uma loja de informática. Não quis seguir o ofício. A vida é assim. Ainda pensei fazer um pavilhão, mas como ele foi para fora, não valia a pena. A forja está lá em baixo, na quinta. Somos só eu e o meu cunhado. Para nós, chega bem.

Já tive empregados, rapazes a cortar aço. Mas não dá. Como passo muito tempo fora, nas feiras, não posso estar sempre a supervisionar. E já se sabe: patrão fora, dia santo na loja!

Agora mesmo estávamos a dividir material. Estas facas são novas, feitas em corno de vaca e micarta. A ligação é feita com um taco de madeira por dentro, tudo colado peça a peça. Um trabalho minucioso. Estávamos a tirar fotografias para enviar aos clientes — pedem sempre: “O que tem agora?”. Mas não temos catálogo. Não há duas peças iguais.

Francisco Cangueiro
Francisco Cangueiro @Tiago Cerveira

As micartas vêm da Roménia, de um dos melhores fornecedores do mundo. Já me manda os blocos cortados à medida para não haver desperdício. Aproveitamos tudo. Misturamos cores, usamos madeira, cortiça, o que for preciso. As navalhas podem ir de 50 a 250 euros, mas todas têm procura. Cada uma tem a sua história.

As falcatas, por exemplo, foram usadas pelos Lusitanos, pelo Viriato. Os romanos, quando cá chegaram, riram-se ao ver aquelas armas pequenas. Mas depressa perceberam que eram eficazes. Levaram a primeira tareia aqui, nos nossos montes. Uma arma grande, no meio do mato, não serve. É preciso algo pequeno, maleável. A falcata era perfeita. E continua a ser. Hoje, nas minhas mãos, é uma peça com alma, feita com tempo e com gosto.

Isso faz toda a diferença, sim. Há respeito, há confiança. Claro que nem sempre é tudo perfeito, há problemas como em todo o lado, mas aqui resolve-se, fala-se. A aldeia é pequena, toda a gente se conhece, e isso ainda vale alguma coisa. Ainda se pode bater à porta do vizinho e pedir uma ferramenta, ou deixar uma encomenda, ou só conversar.

Francisco Cangueiro
Francisco Cangueiro @Tiago Cerveira

E mesmo com o crescimento, com a gente nova a chegar — porque há muitos a regressar ou a vir viver para cá — não se perdeu isso. Até se tem reforçado, eu acho. Claro que agora é tudo diferente de quando eu era miúdo. Lembro-me de andar aí descalço, a subir às árvores, a brincar no meio do mato. Agora, os miúdos já não têm isso. Mas também têm outras coisas boas. Têm mais conforto, mais oportunidades. E têm gente que ficou por cá para lhes ensinar alguma coisa.

Eu, por exemplo, não me vejo a sair daqui. Já fui a muitos sítios, já dormi no carro, já estive em feiras de norte a sul, Espanha inteira, França, Bélgica… mas a casa é aqui. Palaçoulo é o meu lugar. Às vezes dizem: “Epá, mas não pensas em mudar?” Mudar para quê? Aqui tenho tudo. Oficina, espaço, amigos. E liberdade. Tenho liberdade.

Francisco Cangueiro
Francisco Cangueiro @Tiago Cerveira

E liberdade, para mim, é poder fazer o que gosto, à minha maneira, no meu tempo. Se hoje me apetece parar e ir ver as cabras, vou. Se me apetece trabalhar até às duas da manhã, trabalho. Não estou preso a horários de ninguém.

Agora, claro, há responsabilidades. Tenho encomendas para entregar, feiras marcadas, clientes que esperam. Mas isso é bom. É sinal de que há procura, de que o trabalho é reconhecido. E eu gosto de trabalhar. Gosto mesmo. Quando me perguntam “Então, ainda andas nisso?”, eu respondo: “Claro que ando! Enquanto puder, ando. E mesmo quando não puder, vou tentar!”

Porque isto é a minha vida. É o que me dá gozo. Pegar num pedaço de madeira ou de osso e transformá-lo numa coisa que alguém vai guardar, usar, mostrar… isso vale muito. É um trabalho de paciência, de detalhe. E também de memória. Cada peça que faço tem um bocadinho da história daqui. Da nossa terra.

Francisco Cangueiro
Francisco Cangueiro @Tiago Cerveira

Até porque muita da madeira que uso vem daqui. Eu ando sempre de olhos abertos — um ramo de oliveira seca, uma raiz de giesta, uma tábua antiga… tudo pode ser aproveitado. E quando alguém compra uma navalha minha, leva um bocadinho da terra, leva Palaçoulo consigo. Mesmo que não saiba.

É isso que gosto de pensar: que as minhas peças andam por aí, em casas, em bolsos, em mochilas, a cortar pão ou a abrir cartas… mas sempre com um bocado da nossa história lá dentro.

Mais sobre Palaçoulo

Tanoaria J M Gonçalves

Palaçoulo, a aldeia industrial

É uma aldeia industrial. Bastaria esta afirmação para a distinguir de todas as outras. Palaçoulo, em Miranda do Douro, é conhecida internacionalmente pelos produtos que dali seguem para os quatro cantos do mundo. Em pleno planalto mirandês, onde outrora parecia que as estradas não chegavam e o tempo estagnava, uma longa reta – a Avenida da Indústria – acolhe cutelarias e tanoarias, algumas ainda de cariz artesanal. Palaçoulo é também terra de pastores e de pauliteiros. E de monjas.

Ler Artigo Palaçoulo, a aldeia industrial

José Francisco, pastor em Palaçoulo

José Francisco, o pastor de Palaçoulo

Tem uma ou duas preocupações: ver as suas ovelhas sempre bem estimadas e bem vestidas, e saber se os seus amigos de sempre, os que, como ele, não têm família por perto nem gente com quem partilhar a casa, andam bem. Gosta de conversar e conhecer pessoas, e de pagar cafés a quem com ele conversa.

Ler Artigo José Francisco, o pastor de Palaçoulo

Giusy Maffini

Irmã Giusy Maffini, a Madre Superiora

Está à frente de uma comunidade de 10 monjas, que se mudou de Vitorchiano, em Itália, para Palaçoulo, em Miranda do Douro, para se instalar no primeiro mosteiro trapista construído em Portugal. A expectativa que trouxe foi a de construir uma casa que acolha muitas monjas portuguesas, que floresça como uma comunidade local, alegre, fecunda e “portadora da beleza da vida cristã”. E diz que há qualquer coisa especial em Palaçoulo. A começar pelo céu.

Ler Artigo Irmã Giusy Maffini, a Madre Superiora

Maria Buendía e Xavier Rodrigues

Maria Buendía e Xavier Rodrigues, os Caramonicos

Ele é presidente da Lérias – Associação Cultural, ela da Associação Cultural dos Caramonicos, a que pertencem os Pauliteiros de Palaçoulo. Xavier Rodrigues é de Palaçoulo, Maria Buendía é de Múrcia e ambos são um casal à espera da primeira filha em comum. São os grandes dinamizadores da vida cultural da aldeia. E pais da próxima criança a nascer.

Ler Artigo Maria Buendía e Xavier Rodrigues, os Caramonicos

Altino Gonçalves

Altino Martins, o mirandês

Começou a trabalhar na oficina do pai ainda miúdo, teria uns dez anos. passava os verões a trabalhar. Lembra-se da primeira tarefa que lhe deram ( grosar o cabo de uma navalha) e da primeira cicatriz que ganhou (a lâmina desprendeu-se e fez-lhe um golpe no braço). Mas todo o tipo de marcas e tatuagens que a vida lhe foi deixando sempre lhe aumentou a “proua” de ser mirandês.  E o orgulho de ser de Palaçoulo. Altino é, também, um exímio contador de histórias.

Ler Artigo Altino Martins, o mirandês

Manuel Gonçalves

Manuel Gonçalves, o tanoeiro

Está à frente de uma empresa que tem duas atividades bem distintas: a construção civil e a tanoaria. Manuel Gonçalves, filho e neto de tanoeiros, quis seguir as pisadas familiares e manter um negócio que tem conseguido fazer prosperar. As barricas da Tacopal tanto servem para armazenar vinho em França como no Japão.

Ler Artigo Manuel Gonçalves, o tanoeiro

Daniel Cruz

Daniel Cruz, o jovem cuteleiro

Tem 27 anos de idade e diz que fará as maratonas que for preciso. “A vida é feita de maratonas e desafios. Se não for assim, não tem piada”. Ter nascido em Palaçoulo, terra de empreendedores, desenhou-lhe o destino. Com a conclusão do secundário terminou os estudos e começou a ajudar o pai na cutelaria que criou do zero. Não tem irmãos nem sócios, aceito o “mando” que o pai lhe deu. E está apostado em fazer a cutelaria José da Cruz crescer.

Ler Artigo Daniel Cruz, o jovem cuteleiro

Eliseu Fernandes

Eliseu Fernandes, o velho artesão

Tem 78 anos e quase sempre um cigarro entre os dedos. Bebe muito, fuma mais, dorme pouco. Mas não há mãos que lhe tremam quando está a fazer uma das artes de que mais gosta: fazer navalhas. Eliseu Fernandes é um dos últimos artesãos de Palaçoulo, que constrói “navalhinhas” de forma artesanal. Não só talha os troncos para fazer punhos, como pega em ferro velho para fazer lâminas. Só faz navalhas quando lhe apetece – ou quando precisa de dinheiro para tabaco.

Ler Artigo Eliseu Fernandes, o velho artesão

Alberto Martins

Alberto Martins, o gestor

É o filho mais novo de José Maria Martins, a família que está à frente da fábrica Martins, a maior cutelaria de Palaçoulo, que emprega cerca de meia centena de pessoas. Alberto Martins deixou uma carreira de professor para profissionalizar a gestão da empresa familiar e, em conjunto com os irmãos, fazer crescer a empresa.

Ler Artigo Alberto Martins, o gestor

Felismina Gonçalves

Felismina Gonçalves, a tanoeira

Filha e neta de tanoeiros, esposa e nora de cuteleiros, pôde escolher em que indústria trabalhar. Experimentou as duas, mas foi na indústria da tanoaria que escolheu fazer caminho, e partilha com os irmãos a gestão da maior empresa de tanoaria de Portugal. Viveu em França, foge das cidades e da vida apressada.

Ler Artigo Felismina Gonçalves, a tanoeira


Com o apoio de:

Logo dstelecom

Por Luísa Pinto 15/06/2025
Mais sobre Bragança, Palaçoulo, Pessoas

Mais aldeias de Portugal

Footer

  • Facebook
  • Instagram
  • YouTube

Copyright © 2025 · Associação Rostos da Aldeia · Pela valorização das aldeias de Portugal.

Política de privacidade · Contactos