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José Francisco, pastor em Palaçoulo

José Francisco, o pastor de Palaçoulo

Tem uma ou duas preocupações: ver as suas ovelhas sempre bem estimadas e bem vestidas, e saber se os seus amigos de sempre, os que, como ele, não têm família por perto nem gente com quem partilhar a casa, andam bem. Gosta de conversar e conhecer pessoas, e de pagar cafés a quem com ele conversa. Eis o seu testemunho.

Rebanho de ovelhas, Palaçoulo
Rebanho de ovelhas, Palaçoulo ©Tiago Cerveira

“Gosto de ver as minhas ovelhas bem vestidas”

Chamo-me José Francisco, e sou pastor. Sempre gostei das ovelhas. Desde pequeno. Comecei em casa dos meus pais, que também tinham um rebanho. Naquele tempo, a vida era outra. Hoje em dia trata-se de tudo em casa: se eu quiser, num dia que esteja de chuva ou que não me apeteça sair, dou-lhes de comer e de beber em casa. Antigamente, não era assim. Tínhamos de andar com elas todo o dia pelos terrenos, de sol a sol. E havia muito mais gado.

Também fiz isso, andei por aí com o rebanho, ainda garoto. Dormia no campo, para as guardar. Naquele tempo havia muitos lobos. Lembro-me bem disso. Eu devia ter uns sete anos. Estava num lameiro, ali perto de onde estão agora as freiras — conheço-as bem, tenho lá amigas, até tenho lá uma fotografia das minhas também. Era um dia de chuva, um bueiro forte, e eu estava ali abrigado junto a uma parede.

Paisagem em redor da aldeia de Palaçoulo
Paisagem em redor da aldeia de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

De repente, apareceu um lobo — devia ser a mãe — e caçou um cordeiro. Apanhou-o mesmo. E logo a seguir, ali a três metros de mim, apareceram mais três lobos. Eu fiquei ali, sem me mexer, sem dizer nada. Nunca vi lobos tão perfeitos. Senti medo, claro. Três lobos, ali tão perto.

Naquele dia tinha comigo as ovelhas que tinham acabado de parir, com os cordeiros. O cão estava com as outras. Quando as ovelhas viram o lobo apanhar um cordeiro, fugiram a correr para o povoado. E eu fui atrás. Se não fossem a correr para o povoado, os lobos tinham dado cabo delas todas. Porque o lobo é assim.

Tenho ovelhas, é verdade, mas sou a favor de que o lobo não acabe. Que não se extinga. Faz parte do mundo. 

José Francisco

Tenho ovelhas, é verdade, mas sou a favor de que o lobo não acabe. Que não se extinga. Faz parte do mundo. Embora agora já não se vejam muitos — há anos que não vejo nenhum por aqui. É claro que há quem não goste deles. 

Rebanho de ovelhas, Palaçoulo

Rebanho de ovelhas, Palaçoulo ©Tiago Cerveira

José Francisco, pastor

José Francisco, pastor em Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Hoje é proibido matar lobos, sabiam? Mas há uma coisa que me incomoda: há lobos que estão presos, enjaulados, e depois vão lá homens tratar deles. Eles habituam-se às pessoas, e quando saem cá para fora já não têm medo. Isso, para mim, não devia ser assim. Mas que acabem com os lobos? Não, não sou a favor disso.

Eu tenho algumas ovelhas, embora não estejam aqui todas. Ainda é o que mais faço hoje em dia. Muita gente já me disse: “Ai, tu agora já não tens ovelhas?!” Mas não é verdade. Eu não me faço sem umas poucas. Não me consigo afastar delas. Isto porque eu não sou homem de cafés. Quer dizer, tomo um café, claro, mas há pessoas que passam ali o dia inteiro, sem fazer nada. Eu não. Gosto de me entreter, gosto de cuidar das minhas ovelhas, gosto de tudo o que é preciso fazer para que não lhes falte nada. Gosto é de me movimentar, de ser útil, de fazer alguma coisa.

Rebanho de ovelhas, Palaçoulo
Rebanho de ovelhas, Palaçoulo ©Tiago Cerveira

As ovelhas são a minha paixão. Tenho da raça terrincha. São lindas, sempre bem vestidas. A carne é muito boa, o leite também. Não adoecem. Pode passar-se um ano inteiro sem uma mancar. Tiramos-lhes o cordeiro e parecem que nem criaram. Isto é coisa fina. A raça mirandesa também é boa, especialmente a antiga, da Clopingalã. Tenho algumas. Não me desfaço delas.

É pena que hoje se ande a perder isto. Sabe porquê? Porque a lã deixou de ter valor. E se a lã não vale, a carne também perde importância. Depois começa-se a vender as mais pacatas. Já pus estas de parte, agora parece que estão a ver se não se extinguem. É triste.

José Francisco, pastor
José Francisco, pastor em Palaçoulo ©Tiago Cerveira

E não pensem que sou algum capitalista. Sou meio remediado. Mas civilizado. Não roubo, nem a amigos nem a inimigos. Se fossem todos como eu, os bancos nem precisavam de guarda. Tenho confiança em mim próprio. Respeito toda a gente — velhos, novos, mulheres, crianças. E não sou racista. Sou internacional. Por onde passo, sou bem recebido.

Fui sempre pastor, tirando uma vez que estive numa contrata da construção civil. Trabalhei no estrangeiro, em países árabes, e também estive em Moçambique, durante a tropa. Fiz a recruta nas Caldas da Rainha, depois fui para Santa Margarida, depois Lisboa… e de Lisboa fui para África. O capitão até me ofereceu trabalho na polícia: “Só mudas de farda”, disse ele. Mas acabei por me vir embora. Não me arrependo de nada. Podia ter emigrado para a Alemanha ou para a América — até tive uma proposta para os Estados Unidos — mas tive medo do frio. O calor de África habituou-me mal.

Rebanho de ovelhas, Palaçoulo
Rebanho de ovelhas, Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Nasci aqui em Palaçoulo e gosto muito da minha terra. Aqui toda a gente é boa. É uma das aldeias mais importantes do distrito de Bragança. Tem indústria: navalhas, madeiras… e, mais importante ainda, tem trabalho. Não há desemprego.

Gosto de ler. Tenho biblioteca. Sou pastor, sim, mas também tenho cartão de visita. E sei ler! Já trabalhei com doutoras que me tratam por tu. Se quiserem, podem tratar-me só por “pastor”. Tratar por tu é sinal de vontade familiar.

Se quiserem, vamos tomar um café. Pode ser ali à Associação, onde está o Eliseu. Não me dou com maus ambientes. Sabem o que isso quer dizer? Isso não se aprende em livros.

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Tanoaria J M Gonçalves

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É uma aldeia industrial. Bastaria esta afirmação para a distinguir de todas as outras. Palaçoulo, em Miranda do Douro, é conhecida internacionalmente pelos produtos que dali seguem para os quatro cantos do mundo. Em pleno planalto mirandês, onde outrora parecia que as estradas não chegavam e o tempo estagnava, uma longa reta – a Avenida da Indústria – acolhe cutelarias e tanoarias, algumas ainda de cariz artesanal. Palaçoulo é também terra de pastores e de pauliteiros. E de monjas.

Ler Artigo Palaçoulo, a aldeia industrial

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Está à frente de uma comunidade de 10 monjas, que se mudou de Vitorchiano, em Itália, para Palaçoulo, em Miranda do Douro, para se instalar no primeiro mosteiro trapista construído em Portugal. A expectativa que trouxe foi a de construir uma casa que acolha muitas monjas portuguesas, que floresça como uma comunidade local, alegre, fecunda e “portadora da beleza da vida cristã”. E diz que há qualquer coisa especial em Palaçoulo. A começar pelo céu.

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Ele é presidente da Lérias – Associação Cultural, ela da Associação Cultural dos Caramonicos, a que pertencem os Pauliteiros de Palaçoulo. Xavier Rodrigues é de Palaçoulo, Maria Buendía é de Múrcia e ambos são um casal à espera da primeira filha em comum. São os grandes dinamizadores da vida cultural da aldeia. E pais da próxima criança a nascer.

Ler Artigo Maria Buendía e Xavier Rodrigues, os Caramonicos

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Começou a trabalhar na oficina do pai ainda miúdo, teria uns dez anos. passava os verões a trabalhar. Lembra-se da primeira tarefa que lhe deram ( grosar o cabo de uma navalha) e da primeira cicatriz que ganhou (a lâmina desprendeu-se e fez-lhe um golpe no braço). Mas todo o tipo de marcas e tatuagens que a vida lhe foi deixando sempre lhe aumentou a “proua” de ser mirandês.  E o orgulho de ser de Palaçoulo. Altino é, também, um exímio contador de histórias.

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Está à frente de uma empresa que tem duas atividades bem distintas: a construção civil e a tanoaria. Manuel Gonçalves, filho e neto de tanoeiros, quis seguir as pisadas familiares e manter um negócio que tem conseguido fazer prosperar. As barricas da Tacopal tanto servem para armazenar vinho em França como no Japão.

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Tem 27 anos de idade e diz que fará as maratonas que for preciso. “A vida é feita de maratonas e desafios. Se não for assim, não tem piada”. Ter nascido em Palaçoulo, terra de empreendedores, desenhou-lhe o destino. Com a conclusão do secundário terminou os estudos e começou a ajudar o pai na cutelaria que criou do zero. Não tem irmãos nem sócios, aceito o “mando” que o pai lhe deu. E está apostado em fazer a cutelaria José da Cruz crescer.

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Tem 78 anos e quase sempre um cigarro entre os dedos. Bebe muito, fuma mais, dorme pouco. Mas não há mãos que lhe tremam quando está a fazer uma das artes de que mais gosta: fazer navalhas. Eliseu Fernandes é um dos últimos artesãos de Palaçoulo, que constrói “navalhinhas” de forma artesanal. Não só talha os troncos para fazer punhos, como pega em ferro velho para fazer lâminas. Só faz navalhas quando lhe apetece – ou quando precisa de dinheiro para tabaco.

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Filha e neta de tanoeiros, esposa e nora de cuteleiros, pôde escolher em que indústria trabalhar. Experimentou as duas, mas foi na indústria da tanoaria que escolheu fazer caminho, e partilha com os irmãos a gestão da maior empresa de tanoaria de Portugal. Viveu em França, foge das cidades e da vida apressada.

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Por Luísa Pinto 15/06/2025
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