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Maria Buendía e Xavier Rodrigues

Maria Buendía e Xavier Rodrigues, os Caramonicos

Ele é presidente da Lérias – Associação Cultural, ela da Associação Cultural dos Caramonicos, a que pertencem os Pauliteiros de Palaçoulo. Xavier Rodrigues é de Palaçoulo, Maria Buendía é de Múrcia e ambos são um casal à espera da primeira filha em comum. São os grandes dinamizadores da vida cultural da aldeia. E pais da próxima criança a nascer. Eis o seu testemunho.

“Somos Caramonicos com orgulho”

Viver aqui tem muita coisa boa. Nunca pensei em sair. O melhor são as pessoas — o companheirismo, a amizade. E claro, as festas. Gosto muito das festas, acho que foi isso também que me fez ficar cá.

Xavier Rodrigues

Xavier Rodrigues, o pauliteiro

Pauliteiros de Palaçoulo
Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Chamo-me Xavier Rodrigues, tenho 43 anos e sou natural de Palaçoulo. Sempre vivi aqui. Faço parte das duas associações da aldeia: a Caramonico e a Lérias. Sou professor de percussão na Lérias e também sou pauliteiro, tocador e tudo o que for preciso. Gosto de fazer um bocadinho de tudo.

A Lérias surgiu há cerca de 14 anos, precisamente porque não havia gaiteiros para os pauliteiros. Tínhamos de ir sempre buscá-los fora. Aqui, nunca houve gaiteiros. Foi o Tó China, o presidente na altura, e a Diana Caramelo, que é da Guarda, mas esteve cá muito tempo, que fundaram a associação.

Pauliteiros de Palaçoulo
Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

A ideia era criar uma escola de música tradicional, com aulas de gaita, percussão e danças. Chegámos a ter mais de cem alunos. Íamos às aldeias ensinar o que sabíamos — e não sabíamos muito, éramos quase autodidatas. Mas ensinámos os primeiros, até chegarem os “prós”, como o Ricardo Santos e o Antony dos Cardo Roxo.

Os pauliteiros foram sempre o motor disto tudo. Em Palaçoulo há registo de pauliteiros há sessenta ou setenta anos. Mas depois veio a Guerra do Ultramar, muitos jovens foram para a tropa e o grupo acabou por desaparecer. Passaram-se muitos anos até que, há uns 44 ou 45 anos, três ou quatro pessoas apaixonadas por isto decidiram reativar o grupo. Ainda não havia sede, usavam a antiga casa da Junta, lá em cima na praça, para ensaiar. Mais tarde, houve até um presidente da Junta que não queria que lá ensaiássemos, e tivemos de ir para uma garagem.

Pauliteiros de Palaçoulo

Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Pauliteiros de Palaçoulo

Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Pauliteiros de Palaçoulo

Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Foi nessa altura que se fundou a Associação Caramonico, que inicialmente se chamava Associação Cultural de Palaçoulo. O nome “Caramonico” vem de uma história antiga. Como os do Porto são tripeiros e os de Lisboa são alfacinhas, nós somos caramonicos.

A lenda diz que, em tempos, ao remodelar a igreja, colocaram as imagens dos santos na sacristia, tapadas com panos. Veio uma tormenta, caiu tudo, e os miúdos apanharam a imagem de São Miguel — com espada e escudo — e atiraram-na para a lagoa que havia na praça, onde agora é a Junta de Freguesia. Tentavam afogá-la, mas como era de madeira, vinha sempre ao de cima. À paulada e à pedrada, gritavam-lhe: “Ainda refunfunhegas caramonico de mil demónios!”. E ficou. Caramonicos éramos, caramonicos somos. Na altura, até dava porrada se nos chamassem isso. Hoje temos orgulho.

Pauliteiros de Palaçoulo
Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Eu comecei a ser pauliteiro com 12 anos, mas curiosamente não aprendi cá. Estava a estudar em Sendim e a escola precisava de um grupo de pauliteiros para uma visita ao Minho. Como não havia verba para contratar um grupo, o professor juntou oito miúdos, ensinou-nos três ou quatro passos e lá fomos nós. O meu pai também foi pauliteiro, tocador e fez parte da direção, por isso eu já vinha com o gosto. Quando havia atuações, eu queria sempre ir. Mesmo sem dançar, só ver já me bastava.

Comecei a tocar bombo com 13 ou 14 anos, depois toquei caixa, aprendi gaita… Aos 15 ou 16, inscrevi-me num curso de gaiteiros de foles que a Associação Caramonico organizou. Começámos uns 13 ou 14, mas só ficámos eu e o Tó. Fomos aprender com o Tiu Ângelo, construtor de gaitas de Vila Chã. Durante dois anos ele vinha cá dar aulas, pagas pela associação. E foi assim que me formei como gaiteiro.

Pauliteiros de Palaçoulo

Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Pauliteiros de Palaçoulo

Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Pauliteiros de Palaçoulo

Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Pauliteiros de Palaçoulo

Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Hoje toco gaita, toco caixa, sou pauliteiro — mas do que mais gosto mesmo é de tocar caixa. Foi por onde comecei e é o que me dá mais gozo.

Quanto à cultura no Planalto, noto que se está a perder alguma coisa. Não só aqui em Palaçoulo, mas em todo o concelho de Miranda. Em tempos, tínhamos dois grupos, até grupo e meio, prontos para atuar. Hoje, custa muito arranjar oito pessoas para formar um grupo completo. Temos atuações, mas não aceitamos mais porque não conseguimos assegurar. A tradição do pauliteiro está a enfraquecer, e isso custa-me. Mas nós vamos segurando até ao último minuto.

Viver aqui tem muita coisa boa. Nunca pensei em sair. O melhor são as pessoas — o companheirismo, a amizade. E claro, as festas. Gosto muito das festas, acho que foi isso também que me fez ficar cá.

Pauliteiros de Palaçoulo
Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Tenho um filho de 18 anos e agora vem aí mais um, uma menina, que vai nascer em junho. A Maria, a minha companheira, veio de Múrcia, no sul de Espanha. Conhecemo-nos aqui. Ela veio primeiro de férias, trazida por uma amiga cuja família é de uma aldeia vizinha. No início não queria vir — dizia que era da cidade, que isto era um pavor. Mas acabou por ficar. Hoje já toca bombo, toca caixa, leva a bandeira dos pauliteiros… Aprendeu tudo cá. E diz que o que mais gosta também é essa ligação à tradição, à música, ao convívio.

E é isso. Somos caramonicos com orgulho. E enquanto cá estivermos, a música não pára.

Maria Buendía, a Caramonica

Pauliteiros de Palaçoulo
Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Eu sou a Maria Buendía, sou de uma aldeia perto de Múrcia, em Espanha, e agora estou como presidente da Associação Cultural Os Caramonicos de Palaçoulo. Às vezes perguntam-me: “Então, não tens saudades da cidade grande?” E eu digo: sim e não. Não, porque gosto de estar aqui. Mas sim, porque há coisas que só uma cidade tem. Eu vivia numa cidade que não tem nada que ver nem com Miranda do Douro nem com Mogadouro. Nada mesmo. 

Tinha – e ainda tem – sete ou oito farmácias, dois centros de saúde abertos 24 horas, estação de comboios, autocarros, lojas de tudo e mais alguma coisa. Aqui temos a sorte de ainda ter uma caixa Multibanco. Mas, por exemplo, tenho vizinhos que, se precisarem de alguma coisa, têm de ir a Sendim ou a Mogadouro. Às vezes ligam-me: “Maria, hoje vais a algum lado? Podes trazer-me isto ou aquilo?” Porque senão ficam sem leite, sem bolachas, sem nada. Não têm onde comprar.

Pauliteiros de Palaçoulo

Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Pauliteiros de Palaçoulo

Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Pauliteiros de Palaçoulo

Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Pauliteiros de Palaçoulo

Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Por isso, sim, tenho saudades dessa parte de estar bem servida, com tudo à mão. Do que não tenho saudades é do stress. Do movimento. De ter de sair meia hora antes para não apanhar trânsito, procurar estacionamento, chegar a horas. Aqui, em cinco minutos, estás lá.

E há uma coisa que não se paga: aqui sais à rua, conheces as pessoas, falas com elas. Se estiveres em baixo, se tiveres um problema — olha, já me aconteceu — ficas sem água quente? A vizinha diz logo: “Vai a minha casa tomar banho!” Isso numa cidade? Nunca. Nem numa aldeia grande. De onde eu venho, nunca na vida. Nem conhecias o vizinho do lado.

Isso, sim, é outro tipo de conforto. E é aqui que quero criar a minha filha.

Palaçoulo

Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Palaçoulo

Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Apesar de eu ver isto cada vez pior, sou sincera. Já mudou muito. Muita gente foi embora nos últimos sete anos. 

Eu lembro-me de sair à sexta-feira aqui da Associação, ir ao café, e ver uma dúzia de pessoas da minha idade, a beber uns copos, a passar a noite. Agora? Agora não vês ninguém. Vês uns oito pauliteiros da minha idade — mais novos, mais velhos — e metade deles já não estão cá. Estão fora.

E estamos a falar de sete ou oito anos. Se continuar assim, daqui a mais sete ou oito, já não há ninguém. Já não há mesmo ninguém. Vejo aldeias em que contas os miúdos pelos dedos de uma mão — e ainda sobram dedos.

Palaçoulo
Paisagem rural em redor da aldeia de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Quando vão para a universidade, se forem, já não voltam. E pronto, a aldeia acaba. Como em Teixeira: agora mesmo havia três garotos. Um já fez 18, foi para a universidade e nunca mais se viu. Sobram duas garotinhas. O resto da população já é toda idosa.

Claro que gostava que a minha filha ficasse cá e tivesse todos os confortos que Palaçoulo ainda oferece. Mas vejo a coisa muito complicada. Vamos ver. Eu acho que estamos a fazer a nossa parte, a tentar inspirar outras pessoas, a mostrar que é possível, apesar de tudo.

Pauliteiros de Palaçoulo
Pauliteiros de Palaçoulo ©Tiago Cerveira

Mas, como disse, o problema aqui é o trabalho. Em Palaçoulo ainda há as fábricas, sim. Mas e quem se forma? Quem estuda? Como é que vem trabalhar para cá? Não há emprego qualificado. Eu, por exemplo, estou a trabalhar num dos restaurantes da aldeia. Não há muitas hipóteses. Então, claro, acabam por decidir ficar fora.

E olha os rapazes! Estes que viste agora mesmo são todos daqui. São novos. Mas um já tem um comércio em Miranda. A disponibilidade já não é a mesma. Para nós, que precisamos deles ao fim de semana, ou para uma atuação à noite, durante a semana – se ele tem uma loja, ou fecha para vir fazer-nos um favor, ou então não pode vir. E não podemos contar sempre com isso. Outro é engenheiro, está fora. É complicado. Muito complicado.

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Por Luísa Pinto 18/06/2025
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