Guia com tudo o que precisa saber para visitar Arga (núcleo constituído por Arga de Baixo, Arga de Cima e Arga de São João), no concelho de Caminha, em plena serra de Arga. Inclui o que fazer nas aldeias – atividades, trilhos e passeios -, onde ficar hospedado, mapas e contactos úteis.
O que fazer em Arga
Visitar o Mosteiro de São João de Arga
Provavelmente edificado em finais do século XIII, o Mosteiro de São João de Arga é uma “construção de arquitetura românica” que se “insere no grupo das pequenas igrejas rurais, de nave única e curta, com capela-mor de planta quadrangular e panos murários muito robustos”. Seja.
Para o visitante, o santuário de montanha é um dos locais mais emblemáticos da região, tanto para os mais devotos como para os mais foliões. É lá, no recinto do mosteiro – e na companhia da mordoma Fátima Afonso -, que se realiza a Romaria de São João de Arga, uma peregrinação anual que, em finais de agosto, junta milhares de pessoas na serra de Arga [ver abaixo].
Infelizmente, a capela de São João só é aberta aos visitantes em dias de festa; pelo que, fora dessa época, terá de se contentar com os jardins do mosteiro e as vistas exteriores da capela.
Percorrer as ruas da(s) aldeia(s) e contactar com os seus habitantes
Como sempre, as pessoas fazem os destinos. E isso é especialmente verdade em lugares pequenos, nos chamados territórios de baixa densidade. Como em Arga, onde, após alguma eventual desconfiança inicial (ao contrário de Campo Benfeito, aldeia há décadas habituada a receber visitantes estrangeiros), os habitantes são calorosos e hospitaleiros.
Por isso, deixar-se levar pelas conversas e promover essa interação humana é das melhores coisas que Arga tem para oferecer. Isto, naturalmente, sem qualquer desprimor para edifícios históricos como o Mosteiro de São João de Arga, projetos incríveis como a Arte na Leira ou núcleos informativos como o Centro de Interpretação da Serra d’Arga. Mas as pessoas fazem, de facto, toda a diferença!
Aprender no Centro de Interpretação da Serra d’Arga (CISA)
Nas palavras da Câmara Municipal de Caminha, o Centro de Interpretação da Serra d’Arga (CISA) é uma estrutura “orientada para o desenvolvimento de atividades de educação ambiental, divulgação, valorização e promoção do património ambiental e cultural da Serra d’Arga, bem como para o turismo de natureza”.
Pela minha parte, acrescento apenas que vale a pena visitar e conversar um pouco com Ventura Gonçalves, filho do senhor Horácio [ver abaixo] e responsável pelo acompanhamento dos visitantes. É um profundo conhecedor da região e poderá ajudar a explicar não apenas as características do território, mas também partilhar as histórias do quotidiano de um ambiente serrano.
O centro está aberto ao público de terça-feira a sábado, nos horários 9:00 – 12:30 e 14:00 – 17:30.
Participar no festival Arte na Leira
Outro projeto imperdível nas aldeias de Arga é, naturalmente, a Arte na Leira, dirigida artisticamente pelo pintor e ceramista Mário Rocha, um portuense apaixonado pela serra de Arga, para onde se mudou definitivamente há um par de anos.
Durante o verão, a Arte na Leira – “um encontro de mistura e harmonia dos muitos que o Mário induz e acolhe” – enche a aldeia de gente ligada às artes e, com isso, transforma completamente o ambiente de Arga de Baixo. Uma “mistura harmoniosa que faz a diferença, porque é uma manifestação que não se coíbe de pôr lado a lado artistas consagrados, nacional e internacionalmente, e novas promessas, que virão ou não a confirmar-se”.
Parece impossível, mas é verdade.
Ou, como alguém escreveu, “é a teimosia do Mário (mais teimoso do que o granito que nos envolve por todo lado) na sua luta contra o impossível, que torna este evento possível”.
Fazer o Trilho da Chã Grande
Depois de conhecer o mosteiro e o centro de interpretação, outra das coisas que queria fazer em Arga era percorrer o chamado Trilho da Chã Grande. Trata-se de um percurso pedestre circular, com cerca de 12 km de extensão, que tem início junto à igreja de Arga de Baixo e oferece vistas fabulosas sobre a serra e seus aglomerados urbanos. Em suma, não é um trilho difícil e permite conhecer a envolvente serrana.
Dito isto, e descontando a exigente Grande Rota de Montanha do Alto Minho, que passa na região, há uma série de trilhos que vale a pena considerar fazer durante a visita a Arga, em função do tempo disponível. A saber:
- Trilho do Cabeço do Meio-Dia – 9,3 km, com início na Capela de Santo Antão, em Arga de Cima
- Trilho da Pedra Alçada – 11.5 km, com início no Largo da Igreja de Arga de São João
- Trilho da Chã da Franqueira – 5 km, com início no Largo da Igreja de Arga de Baixo
- Trilho da Chã Grande – 11,8 km, com início no Largo da Igreja de Arga de Baixo
Pode fazer download da app Serra d’Arga na Google Play (Android), onde encontrará mais informações sobre alguns dos trilhos.
Romaria de São João de Arga
Todos os anos, nos dias 28 e 29 de agosto, o Mosteiro de São João de Arga enche-se de romeiros para a grande festa. Seja para participar na festa ou para pagar promessas e assistir às cerimónias religiosas, muitos optam por pernoitar nas imediações do mosteiro. Fátima Afonso, a mordoma, diz que há quem “venha acampar oito dias antes” da festa e fique a dormir “no meio dos pinheiros”.
Além das concertinas, do convívio e dos comes e bebes, destaque para o facto de os peregrinos darem três voltas ao mosteiro e, cumprindo a tradição, entregarem uma esmola a São João Baptista e outra ao diabo. “É uma festa única, não há palavras. E eu acho que, com o passar dos anos, a romaria ainda consegue ser melhor”, remata Fátima.
Assim, caso esteja a pensar o que fazer em Arga numa viagem em finais de agosto, participar na romaria é uma sugestão imperdível para uma noite diferente e bem regada.
Petiscar na Taberna do Horácio
Apresentado como o único café da serra de Arga, a Taberna do Horácio é um café pequeno e simples localizado em Arga de Baixo, que funciona como ponto de encontro entre moradores e visitantes.
Mesmo não sendo um espaço diferenciado ou espetacular, é a tasca da aldeia e, por isso mesmo, onde vale a pena parar para conversar com os habitantes, tomar um café ou cerveja e petiscar qualquer coisa entre os passeios. Fica na estrada principal que atravessa a aldeia.
Como chegar a Arga
Situadas na secção da serra de Arga que integra o município de Caminha, Arga de Cima, Arga de Baixo e Arga de São João são lugares facilmente acessíveis com carro próprio, já que ficam a dois passos da autoestrada A28.
Assim, e tendo a cidade do Porto como referência, são sensivelmente 86 km de distância até à saída número 28 da A28, bem próximo da aldeia de Dem. Daí, não tem que enganar: basta seguir pela M552/M526 em direção a Arga de São João. No total, conte com 100 km e cerca de 1h15 de viagem.
Gastronomia e onde comer
Não há restaurantes em Arga; apenas o já referido café do senhor Horácio, em Arga de Baixo. Felizmente, na vizinha aldeia de Covas, há alguns restaurantes tradicionais simples e acolhedores, num registo bom e barato que aconselho vivamente.
São eles o restaurante Adega do Lagar (provavelmente o melhor); o Café Restaurante “O Dias”; e o Flor de Fontela (à quinta-feira há cozido à Portuguesa). Note que não experimentei nenhum deles porque acabei sempre por comer em casas particulares, mas estou certo de que valem a referência.
Quanto às especialidades gastronómicas da região, destaque para o cabrito à Serra de Arga e para o sarapatel, uma espécie de cabidela feita com as miudezas de cabrito. E, claro, para o invulgar chouriço de cebola – eu não fiquei fã, mas é obrigatório provar. Isso e o chiripiti, uma bebida feita com bagaço e mel da região.
Onde ficar em Arga
Apesar da reduzida dimensão das aldeias, há algumas unidades de turismo rural ou alojamento local recomendáveis, tanto em Arga de Cima como em Arga de Baixo. Em concreto, a casa Recanto do Pinheiro, em Arga de Baixo, é de longe a minha preferida.
Alternativamente, há um punhado de excelentes alojamentos num raio de poucos quilómetros, que vale a pena considerar. Desde logo, o extraordinário Cerquido Village & Spa, um turismo rural de alta qualidade localizado no lugar de Estorãos, a 5 km de Arga de Cima. Mas também a Quinta das Pedras Novas, no lugar de Vilares, em Covas, a 6 km de Arga de Baixo. Ambos têm piscina e excelentes instalações para uma estadia tranquila para explorar a serra de Arga. Ou ainda a casa de férias Quinta de Mos, ideal para uma família ou grupo de amigos.
Em todo o caso, pesquise alojamento na região usando o link abaixo. Note ainda que, durante o festival Arte na Leira, realizado no verão, pode ser difícil encontrar alojamento na região, pelo que convém reservar com a máxima antecedência.
Quantos dias dormir na aldeia
Depende, obviamente, do objetivo da visita. Como turista, um dia já dá para ficar com uma excelente ideia dos vários lugares que compõem a União de Freguesias de Arga (Arga de Baixo, Arga de Cima e Arga de São João); conhecer o Centro Interpretativo, fazer um percurso pedestre e mais um ou outro passeio. Dito isto, se puder ficar um fim de semana completo e dormir uma ou duas noites na região terá oportunidade de vivenciar um pouco melhor a vida na aldeia e explorar a serra de Arga – incluindo as suas lagoas e cascatas – com maior tranquilidade.
Seguro de viagem
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Mais sobre Arga
Arga: do topo da serra vê-se o mundo
Arga de Cima, Arga de Baixo, Arga de São João. As três funcionam como uma aldeia só, com um orgulho trazido ao peito como se de um cordão de ouro sobre um traje tradicional do Alto Minho se tratasse. Os habitantes cantam e dançam a alegria de viver na serra, tão perto do mar, tão perto do rio, tão perto de tudo.
Mário Rocha, o pintor
Numa subida à serra e após uma visita ao mosteiro de São João d’Arga, Mário Rocha comprou uma casa em ruínas. Poucos anos depois, começou a organizar a Arte na Leira no espaço que era a sua casa de férias – uma mostra de artes plásticas anual já com 23 edições -, mas mudou-se para Arga de Baixo definitivamente e diz que é na serra que se sente um peixe na água.
Fátima Afonso, a mordoma
Trabalhou 31 anos na cozinha de um restaurante em Corroios, onde ganhou algum dinheiro e uma depressão. Hoje diz ter a principal fonte de alegria na responsabilidade de servir São João de Arga, como mordoma no mosteiro.
Sandra Gonçalves, a agricultora
É motard e bailadora no grupo de danças e cantares de Arga. Há uma dúzia de anos, tinha então 30, deixou de servir às mesas em Lisboa para se dedicar à agricultura e à pastorícia na sua serra natal.