Ficou conhecida por causa da organização do festival dos Míscaros e por atrair milhares de pessoas à Serra da Gardunha no que poderia parecer pouco convidativo mês de novembro. Com cerca de 580 habitantes, o Alcaide é uma aldeia que merece ser visitada o ano todo – e é a aldeia que alguns urbanos já escolheram para viver. Pela qualidade de vida, pela natureza abundante, pelas boas ligações tecnológicas, pelas acessibilidades rodoviárias e ferroviárias. Numa das zonas mais despovoadas do país.
As ruas estreitas ainda estão enfeitadas. Numa há fitas coloridas a “cair do céu”. Numa outra há varais com roupa interior, toda branca: ceroulas, cuecas, cullotes, soutiens, combinações. E há cogumelos, e imagens de cogumelos em toda a parte. Foram dois fins de semana seguidos de Míscaros – Festival do Cogumelo, organizado pela Liga dos Amigos do Alcaide. Realiza-se há 15 anos, e este foi o primeiro em que se estendeu por dois fins de semana seguidos.
Foi a própria população que sentiu a necessidade de voltar a vivenciar um festival com mais tempo e menos azáfama. Os habitantes da aldeia queriam voltar a ter tempo para provar as iguarias das tascas e bancas que são abertas em barracas improvisadas, nas garagens, na sala das casas. Os organizadores queriam voltar a sentir um Míscaros nas calmas – e foi mesmo isso que fizeram. Foi, aliás, esse o nome que deram ao segundo fim de semana do festival. Continuaram as atividades e os passeios micológicos, os workshops e os concertos. Mas foi tudo feito com mais calma, sem as enchentes do fim de semana anterior.
Fernando Tavares
O festival é feito pelos habitantes e para os habitantes. São todos bem-vindos, mas o festival é, em primeiro lugar, para nós, os que cá estamos.
Uns dias depois de ter acabado esta edição do festival, Alfredo Laranjinha, nado e criado na Mouraria, em Lisboa, mas que tem no Alcaide a aldeia da mãe e a residência fixa desde há 12 anos, altura em que se reformou, não tem dúvidas em dizer que “foi a melhor edição de sempre”. Admite que foi uma aposta arriscada, mas garante que foi ganha. Porque a população já merecia voltar a usufruir do seu festival, e também porque ninguém quer abdicar do rebuliço, da animação, das visitas e da faturação que lhes trazem as enchentes do Festival dos Cogumelos.
Fala-se muito deste festival. Não só porque ele decorreu nas semanas anteriores ou porque ainda há coisas por arrumar e contas por fazer. Mas porque há a fundada certeza que há um antes e um depois da organização deste festival. Fernando Tavares, o jovem de 32 anos que chegou a presidente da Liga dos Amigos do Alcaide com apenas 20 (e que ainda pondera candidatar-se a um novo mandato porque, diz, o projeto “ainda não está concluído”) acredita que “foi o sucesso do festival que mudou a vida da aldeia”.
A mudança foi acontecendo ao longo da última da década. Mesmo que as estatísticas oficiais, como os resultados do Censos de 2021, confirmem que a freguesia continua em perda populacional (ainda que menos do que outras freguesias do concelho do Fundão), a verdade é que a mudança se sente nas ruas. “Há dez anos a aldeia quase não tinha jovens. Emigrava toda a gente. Agora, a escola primária tem cerca de 40 miúdos e a creche quase 70”, diz Tavares.
E usa outras métricas, mais ou menos intuitivas: antes havia muitas casas fechadas o ano inteiro, anos seguidos. “Agora quase não se encontram casas disponíveis nem para comprar nem para arrendar”, assegura. E agora há um restaurante com a porta aberta na imponente Casa Cunha Leal e um hotel com 12 quartos na antiga Casa do Visconde de Alcaide.
Estes dois edifícios são dos mais imponentes da aldeia. Deve juntar-se-lhes, também, a casa de João Franco. Todos estes nomes e estas casas, escritas em letra maiúscula, revelam a relevância da aldeia enquanto berço de gente importada e importante para a política e para a democracia, desde que esta se fundou em Portugal.
João Franco foi Primeiro-Ministro de Portugal, um dos políticos dominantes da fase final da monarquia constitucional portuguesa. Cunha Leal ajudou a fundar a República, foi deputado constituinte no parlamento de Sidónio Pais, assistiu à ascensão de Salazar, tornou-se um seu opositor.
Tanto Cunha Leal como João Franco foram filhos de dois lavradores abastados. A agricultura era dominante na região do Fundão – hoje em dia são as cerejas que a tornam reconhecida. E, também por culpa do Alcaide, os cogumelos.
De duas gerações tão diferentes, Alfredo Laranjinha e Fernando Tavares personificam, afinal, alguma da diversidade dos habitantes do Alcaide. Um deles escolheu a aldeia das férias de verão para residência permanente, depois de ter ganho a vida como professor de educação física com especialização na modalidade de ténis. “A ideia de aldeia que existia antigamente já não corresponde nada à realidade”, assegura, dizendo que agora “há muitos jovens, muita criatividade e dinamismo”.
O outro, personifica o jovem que escolheu nunca sair, porque acredita que é possível criar empregos e oportunidades a partir de uma aldeia. “Aprendi tudo o que sei e que sou no associativismo. Foi o associativismo que me deu estaleca, foi na associação que ganhei experiência, que construí uma base de dados e de contactos que me permite, agora, ser um empresário em nome individual”.
Fernando Tavares tem agora uma empresa de gestão de eventos, em conjunto com a esposa. Vão ser pais pela primeira vez. Acha que a disponibilidade para o trabalho na associação vai começar a mudar e admite dar o lugar a outro. Mas não está disponível para deixar de acreditar que ainda é possível criar postos de trabalho na aldeia, ainda por causa do trabalho da associação.
É a Liga dos Amigos quem está, em conjunto com a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal, a pensar em criar a primeira reserva micológica nacional. Algumas das infra-estruturas já estão criadas – como a Casa do Cogumelo, que pode transformar-se numa central de compras com garantia de controlo de qualidade. Falta fazer outras.
Vicente Atalaia, 29 anos, quer participar em todo o processo. Apaixonado pelo mundo dos cogumelos – e pelo seu enorme potencial, também científico – assume-se como um empolgado curioso e um indefectível diletante. Tirando a Liga dos Amigos do Alcaide, de onde nunca saiu, nunca esteve mais de dois anos na mesma empresa. E já esteve em muitas, em várias áreas. Mas vai sempre atrás de desafios.
Já esteve na Espanha, na França e na Bélgica. Mas desde há uns anos que tem evitado emigrar outra vez. “Acabei por ficar cá e ainda bem. Se não fosse isso não teria oportunidade de trabalhar no Game of Thrones e de ter outras experiências”, afirma.
Por agora, trabalha numa imobiliária. Mas a sua paixão são as matérias-primas dadas pela natureza e o estudo do seu potencial. Tem uma produção de mel com marca própria, e diz-se fascinado com o mundo dos cogumelos. “Nós não temos nem metade do conhecimento do que têm estas matérias-primas, estes produtos naturais. Temos aos nosso redor produtos incríveis de grande potencial. E não sabemos nada. Mas eu quero saber. Não está nos meus planos sair daqui”, avisa.
Alcaide, aldeia viva
A vitalidade de uma aldeia pode ser aferida pelo seu café. Costuma-se dizer que todas as vilas, aldeias e cidades tem um Café Central. Não é o caso do Alcaide. Não tem um Café Central, mas tem pelo menos três cafés, uma taberna / tasca, uma mercearia, e agora um hotel e um restaurante…
O café Batista está mesmo no centro da praça principal da aldeia. Em lugar de destaque, a fotografia dos fundadores: Vitor Batista e Maria da Piedade. São os pais de Manuela, que é quem, com o irmão, continua a explorar o café após a morte dos progenitores.
Manuela tem 68 anos, lembra-se de começar a frequentar o café quando tinha 9. “Cresci aqui, no meio das mesas, enquanto os meus pais trabalhavam. A verdade é que as crianças continuam a gostar muito de vir para aqui brincar”, refere Manuela Batista. E aponta para a porta da espécie de cabine onde, no passado, a maioria das pessoas da aldeia usavam o telefone. O telefone ainda lá está, a pilha de listas telefónicas que já ninguém folheia também. Mas a sala agora serve mais para “despensa” de brinquedos, para repositório de triciclos e bolas que as crianças guardam para a visita seguinte.
Manuela diz que gosta muito de estar atrás do balcão, a receber amigos e vizinhos. “Há sempre alguém a entrar ou a sair”, explica, lembrando que a manhã começa com os mais madrugadores, antes das sete da manhã. Mas continua durante todo o dia, com homens e mulheres, novos e velhos. Até à noite, muito depois da hora de jantar, mas sem hora fixa de fecho.
Mas não está sozinha atrás dos balcão do café. Divide-o com o irmão, funcionário do Ministério da Agricultura e, por isso, com outros horários para cumprir. Ele vai cedinho abrir o café, Manuela assegura o restante horário. Ao fim de semana alternam. Há tempo para tudo – até para as férias de que tanto gosta.
Ainda a recuperar da enchente do Festiva dos Míscaros, Manuela não se impressiona com as multidões. Antes gosta delas. “O Míscaros é um lindo festival de inverno, mas a festa que eu mais gosto aqui na aldeia é a que fazemos ao São Macário”, avisa.
São Macário é o patrono da aldeia, a festa faz-se no terceiro fim de semana depois da Páscoa e o seu santuário é um miradouro privilegiado para a aldeia e para a serra que a emoldura. “Quem me tira o Alcaide tira-me tudo”, diz Manuela, que usa os três anos que viveu perto de Castelo Branco para se lembrar que não se dá bem em mais lado nenhum.
Ermelinda Costa está junto ao balcão, a ouvi-la. “A nossa aldeia é a mais linda de todas. Não conseguimos sair daqui”, argumenta, puxando também do seu exemplo pessoal. “Fui para Paris com 14 anos, estive lá a trabalhar numa pastelaria quase 20. Mas depois voltei”. Porquê? “Porque tinha filhos, e aqui é o melhor sitio para os educar”.
Agora Ermelinda tem 69 anos, mas tem uma figura e uma energia que a aparentam bem mais nova. Está à frente de um pequeno café a sete quilómetros do Fundão. “Faço refeições ligeiras, lá tenho muita clientela”, fala rápido.
E começa a repetir “a beleza” que é viver em Alcaide, onde há uma natureza generosa e uma floresta que lhe permite ir à caça de tesouros. “Porque a Natureza é um tesouro, e cada vez que apanho míscaros, ou encontro um ninho de cogumelos, eu fico feliz”.
Convida-nos a acompanhá-la numa caça ao tesouro que, garante, a deixará “milionária” e com a cabeça limpa. Terá se ser rápido, porque nesse dia também traz pessoal a apanhar a azeitona, mas todas as desculpas são boas para voltar à floresta que pertence à Junta de Freguesia do Alcaide e onde os moradores (e não só) vão apanhar cogumelos.
“O problema em Portugal é que não há regras nem é preciso licença para nada. Então é ver autocarros de apanhadores de cogumelos a chegarem aqui e a apanharem o que calha. E a estragarem muito”. Quem o diz é José Matos, um ex-comissário de bordo da TAP que se tornou um dos maiores conhecedores do mundo micológico da região.
Matos chegou ao Alcaide vindo de Londres, depois de encontrar uma propriedade à venda no concelho do Fundão. “Nunca aqui tinha vindo, mas aqui chegado ficamos rendidos”, afirma, juntando no seu plural o companheiro António, que hoje, mais do que micólogo, é um chef que gosta de os cozinhar.
José Matos e António vivem na Quinta Vale d’Encantos, em conjunto com dois irmãos que nasceram aldeia e que os ajudam nos trabalhos agrícolas. Auto-didata e estudioso compulsivo, Matos já dedicou duas dezenas da sua vida aos cogumelos. Só na sua quinta já identificou 540 espécies de cogumelos.
E os seus livros de desenhos (outra das suas grandes paixões) são uma espécie de prontuário onde guarda, entre as folhas brancas, as espécies animais e vegetais que encontrou na sua extensa quinta, com quase 20 hectares.
Matos não tem saudades de Angola, onde nasceu, nem de Lisboa ou de Londres, onde viveu. Diz que ali, no Alcaide, está perto de tudo o que é importante e diz, sobretudo, que tem um anjo da guarda (“que no meu caso é um anjo da Covilhã”, ironiza) que lhe zela pela sua já débil saúde. “Nunca, se estivesse em Lisboa, estaria tão bem acompanhado em termos de saúde”, afirma.
Matos chegou ao Alcaide há 17 anos, dois anos antes do primeiro Festival dos Míscaros. Nunca esteve na organização, mas participou sempre em todos. Pintando os calendários alusivos ao festival, organizando passeios micológicos, emprestando o seu saber e curiosidade a todos os que o procuram com perguntas sobre cogumelos. “Dediquei-me muito aos cogumelos. Porque é uma coisa que permanece muito desconhecida e eu tenho muita paciência e muita curiosidade para os estudar”, explica.
Nesse já longínquo 2009, ano em que se realizou o festival pela primeira vez , a Liga dos Amigos que o propôs (porque não aceitava perder definitivamente para Alcongosta a realização do Festival da Cereja) estava longe de imaginar o sucesso que ia ser. Um sucesso que durante três dias leva mais de 50 mil pessoas a acorrer a uma aldeia que durante o resto do ano tem pouco mais do que 600 habitantes.
Maria Celeste Tavares, 92 anos, viúva desde os 52, é a habitante mais antiga do Alcaide. Criou sete filhos, tem 26 netos e bisnetos. Não sabe ler nem escrever, mas nos dias do festival é vê-la do alto da sua varanda a atirar o resultado do trabalho que teve ao longo do ano: recortes de tudo o que é jornal e panfleto que lhe deixam na caixa do correio. “Gosto de atirar os papelinhos a quem passa cá em baixo na rua. A aldeia está sempre tão bonita e eu também gosto de participar na festa, e ajudar o meu Nando”, explica.
O Nando é Fernando Tavares, o jovem presidente da liga, que tem muito orgulho na sua avó e em todos os que se empenham em ajudar a organização. “Acho que é isto que torna o festival diferente e permite que ele seja um sucesso. O festival é feito pelos habitantes e para os habitantes. São todos bem vindos, mas o festival é, em primeiro lugar, para nós, os que cá estamos”, diz Fernando Tavares.
Bem-vindos ao Alcaide
A verdade é que a aldeia de Alcaide acolhe bem quem os visita. Rui Pelejão e Filipa Gambino, moradores em Lisboa, chegaram a esta aldeia do concelho do Fundão numa tarde de Mundial de Futebol, em 2018. Pararam no café Batista para ver a bola a rolar num estádio russo, e Filipa reparou que se estava a organizar uma caminhada na aldeia, ao fim da tarde. “Pareceu-me ser um bom indício. Pensei que gostava de morar numa aldeia em que se organizam caminhadas”, refere Filipa, editora e produtora de vídeo.
O companheiro, Rui Pelejão, nasceu em Lisboa, mas tem raízes familiares em Castelo Novo e em Castelo Branco. A Beira Baixa era, por isso, uma região a que estava ligado emocionalmente.
Fernando Tavares
Há dez anos a aldeia quase não tinha jovens. Emigrava toda a gente. Agora, a escola primária tem cerca de 40 miúdos e a creche quase 70.
A decisão de abandonarem Lisboa para experimentarem “a ideia romântica da vida no campo, da proximidade da natureza, onde tens uma horta e os vizinhos te trazem cabazes com tudo e mais alguma coisa”, ironiza Pelejão, apontou para o Alcaide ainda por dois fatores.
O primeiro, o acaso de Pelejão, jornalista, ter sido convidado a refundar o centenário Jornal do Fundão. ”E nós não queríamos viver numa cidade, mesmo que essa cidade seja do tamanho do Fundão” – explica.
O segundo fator foi sorte de terem encontrado uma casa a alugar, uma possibilidade que se torna uma raridade na maior parte das aldeias. E aquela casa onde ainda vivem, cinco anos depois, tinha renda barata e localização privilegiada – na rua principal, defronte à torre sineira que ajuda a identificar a aldeia.
Filipa e Rui mudaram-se para o Alcaide em Outubro, e apanharam o festival dos Míscaros em Novembro. Ficaram rendidos à aldeia. Tiveram uma filha, estão a construir casa, o que podia parecer uma aventura tornou-se um projeto consequente.
“Quando chegamos aqui eu dizia ao Rui que bom que era estarmos perante uma página em branco com todas as pessoas deste sítio. Não temos uma história, não temos quezílias, todas podem ser, potencialmente, boas relações. Depois ao fim de cinco anos, claro que já não é totalmente assim. Há pessoas com quem nos damos mais, há outras com quem nos damos menos. É a realidade. Mas a verdade é que aqui nos sentimos bem. Fomos bem acolhidos”, diz Filipa Gambino.
E, mesmo inserida num mundo rural, Filipa consegue fazer coisas de cidade. “Aqui há meditação com taças tibetanas há sexta feira. Não é incrível?”. E também há, todos os anos, o Torneio do Burro, uma espécie de jogo da malha que se decide numa tábua de madeira onde há umas grelhas e uns números desenhados. “Eu pensava que era um jogo de cartas, nunca tinha jogado. Mas a verdade é que participei na primeira edição em que se organizou também um torneio feminino”, diz, orgulhosa, Filipa.
O torneio do burro é propriedade da Tasca do Esteves, com alvará desde 1951 – a prova está afixada na parede. Assim como estão fotos de todos os torneios realizados – e aí temos garantias de que o torneio se organiza, pelo menos, desde 1993.
As origens do jogo são desconhecidas mas a explicação para as suas particularidades percebem-se ainda hoje. O torneio organiza-se nos meses de inverno, para obrigar as pessoas a sair de casa, e a juntarem-se na tasca, a beber. E eram longas as tardes, como parecem demonstrar as marcas no chão onde se pousa a tábua de jogo.
No final do torneio, organiza-se um almoço comunitário. Normalmente já é primavera, as cerejas já estão em flor e a temperatura já permite sair da tasca.
Os meses de inverno são os que mais custam passar a Filipa Gambino. Ainda assim vê mais vantagens do que inconvenientes em viver numa aldeia – sobretudo pela qualidade de vida que consegue ter enquanto “nómada digital”, que trabalha a tempo inteiro a fazer edição de vídeo para uma empresa do Reino Unido.
“Agora temos infra-estruturas tecnológicas que me permitem fazer esse trabalho com facilidade. As dificuldades em manter a minha produtora de vídeo numa aldeia do Fundão ficou minimizada por esta oportunidade de trabalho”, explica. Nos seus dias bons – “são sempre no verão” – tem tempo para fazer o trabalho, brincar com a filha, fazer passeios na floresta e dar braçadas nas praias fluviais e comer caracóis ou qualquer outro petisco com os amigos que a visitam.
Uma qualidade de vida que Roberto Lopes e Ana Batista, um jovem casal de chefs, ambos com 27 anos de idade e muitos sonhos querem conquistar, também no Alcaide.
Para já estão a explorar o restaurante aberto na Casa de Cunha Leal e a apreciar muito a oportunidade de trabalhar de forma criativa com as tradições da região e os seus produtos de qualidade. A ambição é conseguir encontrar uma casa na aldeia para evitar as deslocações diárias que fazem para a Covilhã.
Roberto Lopes afirma tem ficado surpreendido com a vitalidade da aldeia e com a sua capacidade de atrair visitantes. E moradores. Eles também o querem ser.
Mais sobre Alcaide
Fernando Tavares, o líder associativo
Nascido e criado na aldeia, Fernando Tavares é há 12 anos o presidente da Liga dos Amigos do Alcaide, uma das mais importantes associações locais. Tirou um curso profissional de eletrónica e automação de computadores e mesmo assim, admite, não sabe ligar um fio. Mas aprendeu muito com o associativismo e com a organização de eventos como o Míscaros – Festival do Cogumelo, o evento estrela da associação. Acredita que associações como a sua podem fixar jovens e mudar os destinos de uma aldeia.
Rui Pelejão e Filipa Gambino, o jornalista e a editora de vídeo
Têm raízes familiares no mundo rural, mas sempre foram urbanos e cosmopolitas. Até que em 2018 acharam que queriam mudar de vida e envelhecer numa aldeia. Escolheram o Alcaide porque encontraram uma casa para alugar e porque perceberam que havia comunidade, uma população que se organizava e entreajudava. Cinco anos depois têm uma filha, tiveram uma tasca no festival dos Míscaros e já começaram a construir uma casa. “É para ficar”.
Ler Artigo Rui Pelejão e Filipa Gambino, o jornalista e a editora de vídeo
José Matos, o micólogo
Nasceu em Angola e trabalhou durante décadas como comissário de bordo da TAP. Reformou-se aos 50 e ainda experimentou a vida urbana de Londres. Depois viu o anúncio de uma quinta à venda na serra da Gardunha, apaixonou-se pelo local e descobriu o mundo maravilhoso dos cogumelos. Está à frente da Quinta Vale d’Encantos e é um dos maiores especialistas em micologia em Portugal. Identificou, só na sua quinta, quase 500 espécies de cogumelos. Desenhou-os a todos.
Roberto Lopes e Ana Batista, o casal de chefs
Ela tem origem na serra, nasceu na Covilhã há 27 anos. Ele tem a mesma idade mas é de perto do mar, da zona da Lourinhã. Conheceram-se na Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril e tiveram, cada um, várias experiência nas cozinha de reputados e estrelados restaurantes. Quiseram abrir um projeto com assinatura própria, algo que respeitasse o tradicional com o olhar inovador. Escolheram uma aldeia como o Alcaide para poderem privilegiar o projeto e o produto.
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