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Licínio Maurício, gaiteiro de Almalaguês

Licínio Maurício, o gaiteiro

Professor de Matemática, nasceu em Almalaguês e habituou-se às festas da terra, em que o “gaiteiro” – um trio de músicos composto por gaita de foles, caixa e bombo – percorria as ruas da aldeia para avisar da festa. O pai foi o primeiro gaiteiro de Almalaguês. Licínio seguiu-lhe os passos e, hoje, anda com o afilhado-sobrinho e um amigo de infância a animar as festas de rua. Eis o seu testemunho.

Gaiteiros representados na aldeia de Almalaguês
Gaiteiros representados na aldeia de Almalaguês ©Filipe Morato Gomes

“O meu objetivo é que a experiência de ser gaiteiro seja cada vez melhor”

Chamo-me Licínio Maurício, tenho 52 anos e sou filho do gaiteiro que fundou o primeiro trio aqui em Almalaguês, algures pelos anos 70 ou 80. O meu grupo, Gait’Arte, formou-se há 11 anos e, na verdade, pode dizer-se que é atualmente o grupo mais antigo da freguesia.

Não posso dizer que haja muitos ensaios entre nós. Na verdade, os ensaios fazem-se com a prática, e a prática tem-se é nas festas. O gaiteiro prepara a música e, nas festas, experimenta-se, ensaia-se ao longo do evento. Escolhem-se os momentos em que há menos pessoas e ensaia-se. Fizemos isso mais no início, acertámos algumas coisas quando começámos.

Foto antiga de gaiteiros de Almalaguês

Foto antiga de gaiteiros de Almalaguês ©DR

Foto antiga de gaiteiros de Almalaguês

Foto antiga de gaiteiros de Almalaguês ©DR

Foto antiga de gaiteiros de Almalaguês

Foto antiga de gaiteiros de Almalaguês ©DR

Os grupos de gaiteiros são requisitados sobretudo para festas. Na maioria das aldeias, as festas são no verão, mas aqui em Almalaguês a nossa festa principal é mesmo em janeiro: as festas de São Sebastião. Aqui nunca deixaram de ser no inverno.

O meu objetivo é manter a tradição e que o gaiteiro seja cada vez melhor.

Licínio Maurício

Agora as coisas mudaram muito. Havia festas que duravam sábado, domingo e segunda. Aqui ao lado havia uma festa que ia até terça e quarta. Nessa altura, lembro-me do meu pai a fazer ginástica para trocar turnos no trabalho e conseguir ir às festas. Hoje, a maioria dura um ou dois dias, normalmente ao fim de semana. Quando calha durante a semana, já é complicado por causa dos empregos. Todos temos profissões fora disto: eu sou professor de matemática na escola de Mortágua, o Fernando trabalha nas Águas de Coimbra e o meu sobrinho, que também é meu afilhado, é engenheiro químico numa cimenteira.

Grupo de Gaiteiros de Almalaguês
Grupo de Gaiteiros de Almalaguês ©Tiago Cerveira

O que faz o gaiteiro, na altura das festas, é percorrer as aldeias com a Comissão de Festas para recolher donativos. Normalmente convidam-nos para tomar um copo e comer qualquer coisa. Tanto podemos ter umas bolachitas e uma broa, como uma caçoila de chanfana à nossa espera. E assim vamos tocando, comendo e andando. Em aldeias grandes, andamos nisto de manhã à noite, e às vezes é complicado gerir a situação. Não podemos recusar, mas também não podemos beber sempre. Por isso, vamos bebendo à vez.

Comecei a tocar gaita por causa do meu pai. Com a idade, vieram as doenças, e muitos dos senhores mais velhos foram desaparecendo. Havia vários grupos sem gaiteiros. Mesmo o grupo do meu pai tinha dificuldades sempre que ele não podia ir. Como já estava ligado à música, disse-lhe que ia aprender gaita e que, quando fosse preciso, eu ia às festas sem problema.

Licínio Maurício, gaiteiro de Almalaguês

Licínio Maurício, gaiteiro de Almalaguês ©Filipe Morato Gomes

Pormenor da gaita de foles de Licínio

Pormenor da gaita de foles de Licínio ©Tiago Cerveira

Licínio Maurício, gaiteiro de Almalaguês

Licínio Maurício, gaiteiro de Almalaguês ©Tiago Cerveira

A música entrou cedo na minha vida. Em miúdo, tocava órgão na igreja. Comecei pelo piano, mas o saxofone passou a ser o meu instrumento principal. Ainda hoje toco saxofone em muitos eventos com outra formação. Na verdade, compensava mais financeiramente, mas a gaita de foles, mesmo sendo mal remunerada, permite manter a tradição. E é isso que nos anima.

A gaita de foles aprende-se tocando. Aprende-se nas festas, onde há emoção. Cheguei a tocar com o meu pai, inclusive num Encontro de Gaiteiros de Almalaguês, onde ele foi homenageado. Em casa, ele é a minha inspiração. As músicas que tocava são as que eu toco. Podia seguir outro caminho, tocar um estilo mais celta, mas ele tocava o mais tradicional e é esse o estilo que se toca aqui. Fiz questão de transcrever tudo em partitura, para que um dia, quem quiser continuar, tenha a música já feita.

Gaiteiros de Almalaguês
“Não há festa até o gaiteiro chegar” ©Tiago Cerveira

O que me motiva a continuar? Isto nem se explica. Apesar do cansaço, das corridas contra o tempo, há algo no convívio, no conhecer pessoas novas, que nos anima. E estar com este trio é um prazer.

Agora, o meu objetivo é manter a tradição e que o gaiteiro seja cada vez melhor. E é bonito quando junto estas duas vidas. Atualmente dou aulas em Miranda do Corvo, mas quando comecei fui colocado em Côja. Anos depois, estava a tocar em Barril de Alva e acabei à porta de um ex-aluno do 5.º ano. Foi emocionante vê-lo já chefe de família.

O meu sobrinho, quando começou, queria claramente ganhar uns trocos. Começou antes dos 20 anos e preocupava-se em ficar bronzeado apenas de um lado, porque o outro estava escondido pelo bombo… Mas a verdade é que o pessoal mais novo está a recuperar esta tradição, à medida que os mais velhos desaparecem.

Adega em Almalaguês

Pormenor da adega em casa de Licínio Maurício ©Filipe Morato Gomes

Grupo de Gaiteiros de Almalaguês

Convívio entre os elementos do Grupo de Gaiteiros de Almalaguês ©Filipe Morato Gomes

Grupo de Gaiteiros de Almalaguês

Convívio entre os elementos do Grupo de Gaiteiros de Almalaguês ©Filipe Morato Gomes

Isto é cíclico. Agora está na moda tocar gaita de foles. Houve tempos em que era visto como um instrumento menor. Até gozavam. O gaiteiro era muitas vezes rotulado como uma cambada de bêbados. E, antigamente, com alguma razão. Cheguei a tocar com pessoal mais velho e eles contavam que de manhã ainda tudo corria bem, mas à tarde… cadê o gaiteiro? Hoje, as comissões de festas são mais exigentes. E ainda bem.

Esta região de Coimbra sempre teve tradição de gaiteiros. Eram sempre convidados para a Queima das Fitas. Agora, estamos a recuperar uma identidade própria. As vestimentas das gaitas estão a ser feitas com tecelagem de Almalaguês. Faz todo o sentido. Ainda não tenho a minha, mas já está encomendada.

Mais sobre Almalaguês

Almalaguês, a aldeia das tecedeiras

Fundada por um árabe há mais de mil anos, Almalaguês resistiu sempre, fiel às suas tradições. Uma das mais relevantes é aquela que põe as mulheres atrás de um tear, tear atrás de um postigo, a tecer, tecer, tecer. Tapetes e colchas. Foi por estar afastada do centro de Coimbra, isolada atrás de estradas pouco acessíveis, que se acredita que resistiu e persistiu. Com alguns desafios. Mas que têm vindo a ser superados pelo orgulho nas raízes e o gosto em se reinventar. A vida corre em Almalaguês, terra de tecedeiras, gaiteiros, nagalhos e arroz doce.

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Vitor Costa

Vítor Costa, o pintor

Foi o menino da aldeia, conhecido de todos por ser afilhado do senhor da Casa Grande, o maior proprietário da terra. Estudou Direito, trabalhou numa farmacêutica, jogou futebol e andebol, mas, se há ofício que o define, é o que expressa através da arte: a pintura. Pinta desde que ganhou uma mala de viagem carregada de materiais num concurso de desenho na escola primária. Foi presidente da Junta e é um dos principais dinamizadores da freguesia – um dos últimos projetos que promoveu foi a exposição de arte pública “Ao Postigo Contigo”.

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Maria Emília Pereira

Maria Emília Pereira, a professora

É conhecida por Mila ou por professora. É, de facto, professora do Ensino Básico e, quando começou a dar aulas em Coimbra, acabou colocada em Anaguéis. Tem 66 anos, está reformada. Hoje em dia, numa das últimas escolas onde deu aulas, é a dinamizadora da Associação Herança do Passado. Mais do que um museu, é um ponto de encontro de novas e velhas tecedeiras, gente com sabedoria e experiência para partilhar e com vontade de aprender. Maria Emília nasceu e cresceu em Seia, mas apaixonou-se pela tecelagem de Almalaguês.

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Benvinda Isidoro

Benvinda Isidoro, a mestra

Com 90 anos acabados de fazer, Benvinda Isidoro diz que não se permite parar. Todos os dias, sempre que pode, volta a pôr-se de gatas para entrar no seu tear e tecer, tecer, tecer. Perdeu a conta às peças que fez e às senhoras que ensinou. Mas não se diz mestra: mestra era a sua avó, que ensinou 57 pessoas. Humilde, não deixa de sublinhar que conseguiu fazer coisas que mais ninguém fez, que preza muito o trabalho “fino” e “criativo”, e que agora continua a trabalhar para doar a pessoas da família.

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Cristina Fachada

Cristina Fachada, a tecedeira

Tem 56 anos de vida, e mais de 49 passados atrás de um tear. Os trabalhos de Almalaguês são quem lhe leva a criatividade e o desafio, e de onde tira alento, e rendimento. Atualmente é a única tecedeira que tem a porta de casa aberta ao público para mostrar os seus trabalhos todos os dias da semana. Não quer que volte o tempo antigo, mas aprecia que a arte esteja de novo a revigorar. Começa a sentir-se cada vez menos sozinha.

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Por Luísa Pinto 30/03/2025
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