Tem energia inesgotável, um eterno ar de menina traquina, um sorriso contagiante. Milene Sieiro tem 30 anos mas sente-se com 19. Não é residente da aldeia, mas é uma das companheiras que vem para a ASTA todos dos dias, há já 9 anos. É, também, uma das guias turísticas habilitadas para acompanhar visitantes no programa “Contigo, há Descoberta”. Eis o seu testemunho.
“O meu futuro é ser uma boa guia turística”
Chamo-me Milene Sieiro, e nasci no Vale da Mula, em Almeida. Fica ali perto de Vilar Formoso, junto à fronteira. Tenho 30 anos, mas sinto-me como se tivesse 19.
O meu irmão mais novo diz que nós devemos ser fortes e valentes, e enfrentar os medos com a nossa coragem. E eu acho que sou forte e valente e corajosa. Sou a poderosa de Vale da Mula. Esta Milene é demais, malta. Já sei que está toda a gente a dizer isso.
Fui eu que sugeri à minha mãe vir aqui para a ASTA. Vim em 2015, em outubro. E pensei em vir porque se estivesse fechada em casa era pior. Muito pior. Hoje acredito mesmo que ter vindo para a ASTA foi a melhor decisão que tomei.
A ASTA trouxe-me felicidade e muita alegria, agora no “Contigo, há Descoberta“. O meu futuro é ser uma boa guia turística. Eu e mais dois companheiros fazemos visitas guiadas em Almeida e na Cabreira. Qual é que eu gosto de fazer mais? As duas seguidas!
E quando vou para as caminhadas, fazer as visitas guiadas, o dinheiro que a Anémone me paga vai para a conta bancária. Eu dou-o à minha mãe, que é para não andar a gastá-lo à bruta.
Eu faço outros trabalhos na ASTA, além do turismo. Já estive em duas oficinas, primeiro na olaria, e agora na lã. Eu gosto mais da oficina da lã, claro. Porque já consigo fazer porta-chaves sem ajuda. E na olaria fazia cinzeiros mas com ajuda. E uma coisa não tem nada que ver com a outra. Outra coisa que eu gosto de fazer aqui na ASTA é equitação. Eu também tenho hipoterapia entre as minhas atividades.
Para mim, a ASTA é uma comunidade em que nos damos todos bem, somos bem-educados uns com os outros e respeitamo-nos. E, além disso, os companheiros ajudam os colaboradores, e os colaboradores ajudam os companheiros. Ajudamo-nos uns aos outros, e isso é que é fazer bom trabalho de equipa.
Eu queria muito falar convosco aqui no palco do pinhal. Nós fazemos muitas festas aqui, é onde atuam os meus colegas do Pé Cochinho, onde há muitos espetáculos. Eu não ando na música, mas todos sabemos cantar. Eu tenho muita energia, não é? Eu sei, eu sei. Estão sempre a dizer-me “Respira, Milene! Respira” Eh eh eh. Esta Milene é demais, não é?
Mais sobre Cabreira
Cabreira do Côa, a aldeia dos companheiros
Conta-se que, desde há muito tempo, num pequeno vale abrigado por grandes pedras arredondadas, na raia com Espanha e a oeste de um rio que corre para norte e se chama Côa, vivia uma pequena comunidade de gente corajosa, simples e afável. Desde há 25 anos que a aldeia da Cabreira, no concelho de Almeida é também a morada da ASTA, uma associação sócio terapêutica dedicada à deficiência mental, que não tem utentes nem clientes. Tem companheiros e é um caso sério de compromisso com a integração social.
“Contigo, há Descoberta”, um programa de turismo inclusivo
Iniciativa de turismo social, inclusivo e de natureza é dinamizada pela ASTA – Associação Sócio Terapêutica de Almeida, e tem uma oferta estruturada de um, dois dias ou uma semana direcionada para adultos e crianças, empresas e famílias, todos os que procurem uma experiência turística humanizada e humanizadora.
Ler Artigo “Contigo, há Descoberta”, um programa de turismo inclusivo
Maria José Dinis, a mãe
Natural da Cabreira, aldeia de Almeida onde nasceu há 69 anos, Maria José aprendeu a ser pedagoga e socioterapeuta por causa do Marco, um filho que lhe nasceu deficiente. Maria José apresenta-se como mãe de Marco e é, também, mãe da ASTA, a associação sócio terapêutica com 44 companheiros e 42 colaboradores que ajudam a povoar e a dar sentido a esta pequena aldeia do Interior. Uma aldeia que tem magia.
Anémone Leton, a viajante que encontrou a paz
Nasceu na Bélgica, viajou pelo mundo, é profissional de turismo. Aos 34 anos diz ter a sorte, e o privilégio, de ter encontrado no projeto da ASTA um sentido para a vida e um espaço onde quer montar um ninho familiar, e continuar a aprender. É coordenadora do projeto “Contigo, há Descoberta!”, uma iniciativa de turismo social, inclusivo e de natureza. Agora só está preocupada em continuar a aprender, vai tirar o curso de Socioterapia e Pedagogia Curativa para poder partilhar com os companheiros muitas descobertas.
Guilherme Anjos, o guia turístico
Nasceu numa aldeia de Figueira de Castelo Rodrigo, mas passou a infância e a juventude numa casa de acolhimento para jovens em risco, perto do Porto. Antes de chegar aos 18 anos, foi ele quem pesquisou na Net e procurou o seu destino. Encontrou a ASTA e desde há três anos é um dos companheiros que vive na Casa da Oliveira, bem no centro da pequena aldeia de Cabreira do Côa. É, entre muitas outras coisas, um apaixonado guia turístico.
Luís Fonseca, o braço direito
Foi quando uma amiga de infância lhe pediu contactos que ele entregou toda a sua ajuda. Ajudou-a a montar a associação, e desempenhou nela muitos papéis. Foi voluntário, depois funcionário, foi pai de casa e agora é responsável pela parte agrícola do projeto ASTA. É presidente da Junta.
Joaquim Caramelo, o vizinho da Cabreira
Nos 87 anos que leva de vida, Joaquim Caramelo só conseguiu viver 9 anos fora da Cabreira, emigrado em França. Não gostou muito de lá estar. Mas ainda gosta de morar na aldeia que o viu nascer. Teve 15 irmãos, casou com uma vizinha da aldeia, tem dois filhos e uma boa dose de humor. É um contador de histórias, que mete conversa com todos os que passam na rua.