No coração do Parque Nacional da Peneda Gerês, a vila do Soajo, no concelho de Arcos de Valdevez, tornou-se muito conhecida pelos seus fotogénicos espigueiros e pela exuberância da natureza envolvente. É uma terra que o turismo pôs no mapa, mas que as gentes locais têm sabido preservar. Mais do que uma biblioteca e um museu, é um ser vivo e vibrante, onde o passado e o futuro se encontram, com gentes de todas as idades e mundividências. Soajeiros de gema, e soajeiros de coração, tornaram-se todos comunidade.
Teresa Barreira Martins, 71 anos, viúva, dois filhos, nasceu e cresceu na terra dos Espigueiros, o Soajo. É assim que é muitas vezes conhecida esta freguesia de Arcos de Valdevez. E da casa onde Teresa mora com a irmã, Maria, 63 anos, solteira, e com o filho, Luís, de 50 anos, há vista privilegiada para um. Há quem lhes chame espigueiros, há quem lhes chame caniços, e nesta freguesia de Arcos de Valdevez há mais de cem.
Os mais conhecidos estão concentrados na Eira do Penedo, numa lage natural onde 24 espigueiros, quase-capelas, impressionam pelo granito e pela beleza. Os espigueiros eram precisos para guardar o milho, deixando-o arejado e longe de pragas, e todos eram poucos para o tanto milho e tanto pão que se cozia nesta aldeia de montanha, perpetuando assim o nome da serra que, essa sim, foi desaparecendo dos mapas. Integrada no Parque Nacional da Peneda Gerês, a serra do Soajo é um dos seus ativos mais vivos e luxuriantes, e a comunidade que hoje vive na aldeia é cada vez mais multicultural.
A casa de Teresa está mais perto da Casa do Povo do que da Eira do Penedo, e nesta manhã fresca de outono, o primeiro trabalho do dia está bem perto de casa. Vai tirar do estábulo, onde passaram a noite, a Carricha, a Pinheira e a Nova – “são todas vacas, todas cachenas” – e soltá-las numa leira onde todo o feno já foi apanhado, e as bordas do campo que ficaram mais altas, para as alimentar, já foram comidas. Por isso Teresa está a espalhar o fardo de palha que a irmã Maria tinha ido buscar na véspera, a outro campo, para as vacas se alimentarem durante o dia.
As pessoas passam no Soajo, gostam, querem voltar. E percebem que podem comprar um casa, fazer um investimento, alugar no resto do ano, pôr a render. E assim se mantém viva a aldeia.
Manuel Lage
Teresa e Maria, as irmãs do Rego, como todas as conhecem, são talvez das últimas mulheres que continuam, um dia após o outro, de verão e de inverno, semanas e feriados, a cumprir as velhas tradições soajeiras, que punham as mulheres a arrancar da terra o sustento da família, e a zelar pela criação dos filhos enquanto os maridos estavam emigrados.
Mulheres de preto, as viúvas de vivos, carrejavam lenha e estrume, juntavam-se em cavadas e em lavradas, faziam medas com a palha, esfolhavam o milho, fiavam a lã, teciam as meias, faziam farinha, coziam pão. Ambas vestem de preto. Teresa é viuva, Maria nunca casou – e sempre vestiu preto. Ou porque tinha morrido o pai, ou a mãe, ou um familiar, ou porque o luto se prolonga, ou porque se habituou a vestir assim. “Tenho a roupa sempre escolhida”, diz bem disposta.
As irmãs do Rego combinam na véspera o que vão fazer no dia seguinte. Se uma vai apanhar feijões a outra vai às galinhas, se o filho vai às cabras, a mãe fica a debulhar. Não sabem fazer outra coisa senão trabalhar – mais porque gostam e entendem que é preciso continuar a trabalhar as terras e “não as deixar a monte”, do que porque precisam para comer.
É Teresa quem faz questão de o dizer, recusando os que as criticam baixinho por tanto lavor à moda antiga – “dizem ali andam as enforcadas, eu bem sei! Mas eu ando porque quero e porque gosto. Porque não quero ver as coisas a monte, e porque quem tem animais tem de os cuidar”, refuta Teresa.
E depois também porque, mesmo que pudesse comprar o pão na padaria da vila nenhum lhe sabe melhor do que aquele que coze no seu forno, à moda que aprendeu com a mãe. O filho Luís também já aprendeu a fazer todas as lidas do forno, e Teresa está sossegada, porque a tradição vai manter-se… E graças ao estoicismo das irmãs do Rego, as tradições soajeiras seguem inabaláveis, e não são vistas apenas num museu.
Todas essas tradições estão bem visíveis e documentadas no Centro Interpretativo e Etnográfico do Soajo, localizado na mais nobre praça do Soajo, o largo do Eiró e do seu emblemático pelourinho.
É lá que Rúben Pereira, um jovem de 30 anos, soajeiro de gema, encaminha os visitantes a verem fotografias e vídeos, a participarem em pequenos jogos que ajudam a perceber a mundividência que ali existia – e existe. Ali é possível ouvir os tempos antigos contados na primeira pessoa, e conhecer narrativas como a procissão dos defuntos ou o pito da morte, as histórias de lobos e bruxas, de emigração clandestina e trabalho árduo, e também histórias de festa e de tradições, os serões a fiar e a cantar.
Seja pelas instalações interativas, seja pelo entusiasmo de Rúben é possível passar um bom par de horas a conhecer todas as histórias e tradições do Soajo. Muitas já desapareceram de vez. Por exemplo, quem se ocupe a emedar, isto é, fazer medas de palha, torres encimadas por um cucurucho elegante que serviam de armazém para guardar a palha que seria alimento do gado.
Pela descrição pode parecer uma estrutura simples, pelas fotografias que António Neto guardou no seu livro, e cedeu ao Centro de Etnografia do Soajo percebe-se que quem emedava podia não ser arquiteto nem engenheiro, mas tinha de saber muito de estruturas e de leis da física para impedir que a palha no interior se molhasse, e que a do exterior resistisse ao vento, ao frio, e à chuva.
Foi por pressentir que elas estavam em extinção que António Neto, mais conhecido por Tenais, tornou a câmara fotográfica e de filmar o seu poderoso aliado para registar o mais que pôde e conseguiu da vida rural que conheceu na sua infância. São dele as fotografias dos campos amontoados de medas, das filas de mulheres a empunhar sacholas ao alto numa expressividade que permite adivinhar o ritmo com que trabalham. Aliás, um ritmo que quase se ouve, imagens de mulheres que nem se vêem debaixo de enormes fardos de lenha à cabeça.
Rúben tem muito orgulho de ser soajeiro, e não o esconde. Conta com entusiasmo as histórias de honra e resistência protagonizadas pelo Ti Sarramalho, o juiz do Soajo, ou pelo cão Sabujo, sublinha o orgulho que os seus conterrâneos têm na sua serra, e na sua terra. Soajo tornou-se uma vila muito procurada pelos turistas e, como diz Manuel Lage, um empresário do setor do Turismo, da geração de Rúben e com a mesma determinação, “o Soajo só é o Soajo porque as pessoas permaneceram nele”.
Rúben foi sempre ficando pelo concelho, Manuel precisou de ir conhecer o mundo para ter a certeza de que tem tudo o que precisa na sua terra. Mas ambos fazem à sua maneira, à sua imagem e à sua dimensão, tudo o que podem e conseguem para preservar a identidade da sua terra. Rúben Pereira dedica-se à criação de cavalos garranos, o cavalo selvagem do Soajo.
Quando não está no Centro de Interpretação anda a monitorar o GPS para encontrar os seus cavalos selvagens no meio da serra. Manuel Lage lidera atividades outdoor, como river trekking no rio Adrão ou caminhadas pelos trilhos da serra, oferece refeições modernas com produtos locais e tradicionais (os hambúrgueres de cachena são umas das opções mais populares) e todos os anos organiza o Soajo Outdoor Fest, uma festa que começou por ser um dia e a próxima já vai ser cinco.
É um festival de música e natureza, que junta produtos tradicionais, música popular, DJs e muito desporto. “As pessoas passam no Soajo, gostam, querem voltar. E percebem que podem comprar um casa, fazer um investimento, alugar no resto do ano, pôr a render. E assim se mantém viva a aldeia”, sugere Manuel Lage.
Lage sabe bem do que fala, porque no momento em que fala, na taberna Montanh’Arriba trabalha Ana João, uma jovem de Famalicão, licenciada em Fotografia e que está a tentar afirmar-se na profissão. Ana João vinha muitas vezes para o Gerês com os pais, cresceu a gostar de caminhar na montanha, e foi já adulta que, em janeiro de 2020, pouco antes de começar a pandemia, fez uma caminhada no Soajo e sentiu, “uma ligação inexplicável a esta terra”. “Senti-me como se estivesse em casa”, explica.
Tratou de fazer pesquisas, procurar emprego, conheceu o Manuel. Convenceu-se que devia investir numa ruína para colocar no alojamento local. E depois, num Soajo Outdoor Fest, conheceu o atual namorado, João Gomes. A casa que era para Alojamento Local ficou pronta, passou a ser a casa dos dois.
Ela procura singrar na área da comunicação e da fotografia. Ele mantém o trabalho de web developer para uma empresa nos Estados Unidos. Tem formação em design gráfico e comunicação, trabalhava para uma agência. Trabalhou em Londres, no Porto, em Braga. Antes de se mudar para o Soajo, vivia na sede do concelho, em Arcos de Valdevez a fazer trabalho remoto.
Percebeu que na vila do Soajo também havia cobertura de rede de fibra ótica com capacidade de fazer o seu trabalho e percebeu que não encontraria travão no caminho.
Hans Kok vem de um universo muito diferente, mas também foram as auto-estradas tecnológicas que lhe permitiram escolher o Soajo para comprar um terreno e construir uma casa. É holandês, e trabalha há mais de 20 anos a ministrar cursos de e-learning na área da radioterapia (a sua especialidade). Foi depois de ter investigado muito o cancro e as terapêuticas para o combater, que acabou a montar uma empresa de e-learning e que tem gente a trabalhar para si desde a Índia. Já ele prefere estar no Soajo.
“Foram uns amigos que conheci na Escandinávia que me falaram muito de Portugal. Resolvi vir até cá ver. Começou com uma conversa na taberna, mostraram-me uns terrenos, apaixonei-me por isto. Aqui estou eu”, confessa. Vem de manhã à Casa do Povo tomar um café, e é de lá que vê Teresa do Rego a lidar com as suas vacas. “Aqui ainda há verdade, ainda há tradição. E as pessoas são simpáticas, recebem-nos bem”.
António Cerqueira, que terá a idade de Hans, e que também andou por outros países (nomeadamente, por França e pelos Estados Unidos, os dois principais destinos da emigração soajeira) prefere “estar em casa”, acima de tudo. “Soajo é casa, Soajo é serra, Soajo é tudo. Nós não vamos nunca conseguir retribuir à serra tudo o que ela nos dá”, afirma. António Cerqueira é conhecido por Catito, porque já o pai e o avô “gostavam de andar bem apessoados, apresentáveis… catitos”, ironiza. Ele também gosta.
A sua imagem de marca é chapéu na cabeça e cachimbo na boca. Seria um chapéu de cowboy, se não tivesse aprendido a usá-lo e a gostar dele em território bem português. Mas também é um rapaz do gado – “um cowboy”, brinca outra vez – porque são as cachenas que mais lhe ocupam o tempo. Tem quase 200, andam todas à solta pela serra. Ao lado de Catito anda sempre a Bela, uma cadela sabuja que se dá ares de estrela de cinema. “A sério, parece que ela posa para as fotografias. Já apareceu em muitos filmes e telenovelas”, diz Catito.
Catito é o primeiro a confirmar que em Soajo as pessoas gostam de receber bem. Começa a contar histórias avulsas, de gente que conhece na aldeia, ou na serra, e que inevitavelmente levam Soajo no coração. “Houve uma vez que tive lá em casa um japonês a passar a noite de Natal. Ficou tão feliz, que num instantinho nos foi fazer presentinhos em papel para toda a família – os origamis. “Agora recebemos uma carta do pai desse rapaz a dizer que nos recebe a todos, assim que quisermos ir ao Japão”, conta.
Soajo é, pois, terra de gente dura e gente de rigor – são conhecidas as histórias de zaragatas com os da vila dos Arcos, por causa do sabujo a que chamam Castro Laboreiro, por causa do nome da serra, que devia ser Soajo e não Peneda. Por causa do que calha. Mas é também terra de gente muito hospitaleira. Gente que gosta de receber.
E é terra de muitos atributos turísticos – a beleza da Eira do Penedo e do largo do Eiró, para falar de espaços construídos, o Poço Negro ou as lagoas da Travanca, para falar dos espaços naturais. Por isso, é muito procurada por visitantes de todos os quadrantes e idades, durante todo o ano. Quando, há mais de 30 anos, Tenais abriu o primeiro restaurante da vila não estava a contar com as casas cheias que teve desde então. Agora já há três restaurantes e muitos outros espaços onde é possível fazer refeições, e parece haver lugar para todos.
Estar no Soajo é bom o ano todo, mas na primavera e no princípio do outono é a melhor altura de todas – também é quando há menos turistas. Quem o diz é Alexandre Casanova, um professor de educação física com cerca de 50 anos que podia estar nos Estados Unidos a trabalhar (“vou lá muitas vezes fazer cursos de verão”, explica), mas prefere andar pelas escolas secundárias nacionais (aproximando-se cada vez mais da terra natal).
Por agora, está em Ponte da Barca. Alexandre tem dupla nacionalidade, nasceu nos Estados Unidos onde os pais eram emigrantes. Mas regressou a casa do avô quando tinha apenas seis anos, e desde essa altura que se lembra de o ver a sair de casa para ir com os animais, quando era dele a vezeira que assegurava o pastoreio do rebanho coletivo. “Ainda hoje o que mais gosto de fazer é andar por essa serra, a fazer fotografias”, explica, contando que é ele quem dinamiza no Facebook a página Soajo – Paraíso Natural.
Casanova está agora empenhado em participar no desenvolvimento de uma Monografia do Soajo, um projeto da Associação de Desenvolvimento Local do Soajo e que está a ser coordenado por Luís Tiago, um homem que já teve várias profissões e que ainda é muitas coisas, mas que gosta de se apresentar como pastor. Porque diz que é a levar as ovelhas para a serra que entende ser o melhor dos seus dias.
Luís Tiago tem um enorme percurso no mundo digital e sempre se questionou sobre o impacto da digitalização na natureza. Hoje foca-se na pegada que deixamos no planeta ao usarmos diariamente tantos recursos digitais e defende que são precisos mais pastores para fazer uma gestão saudável e integrada do território de montanha e da paisagem.
Um dos objetivos é demonstrar que este conjunto de animais, num território de montanha, é capaz de recuperar, de regenerar e de gerar um conjunto de valor acrescentado no que respeita ao ecossistema em que existe, na economia, no desenvolvimento local e social.
Luís Tiago
Luís passa os dias com um rebanho de Churras do Minho, Cachenas e uns Garranos, e está a tentar monitorizar o impacto destes animais em território de montanha, no pastoreio extensivo, na regulação do solo e na gestão da paisagem. “Um dos objetivos é demonstrar que este conjunto de animais, num território de montanha, é capaz de recuperar, de regenerar e de gerar um conjunto de valor acrescentado no que respeita ao ecossistema em que existe, na economia, no desenvolvimento local e social”, explica.
O Soajo acaba assim também por ser uma espécie de laboratório natural onde também o futuro se experimenta. Uma terra que respeita o passado e se orgulha das tradições mas também que se inquieta com o porvir, que procura soluções. No fundo foi também isso que Yassine Benderra e Joana Costa procuraram – e encontraram – no Soajo há mais de uma década. Encontraram um lugar de águas límpidas e sentido de comunidade, advogam uma vida simples e defendem a partilha, foram percursores de um movimento que está a trazer de volta as pessoas à lida da terra, ao respeito pela natureza, ao seu cuidado.
Naturais do Porto, licenciados (ela em microbiologia, ele em osteopatia), dedicam a sua vida a criar os filhos (o Isaac, de 14 anos, e a Miriam, de 10) e a trabalhar a terra tendo como base os princípios da permacultura e do yoga. Fundaram, a titulo pessoal, o Joyas da Terra e estão ligados ao projeto Agroecológico do Soajo, experimentando sistemas agroflorestais que podem regenerar os ecossistemas.
Se há característica comum a cada habitante do Soajo, por mais diversa e multicultural que seja a origem e experiência de cada um, parece ser a paixão pela natureza, pela terra, pela serra e pelas suas tradições que lhes serve de motor para o quotidiano. Como se o Soajo-Serra e o Soajo-Vila fossem duas mulheres à conversa no Largo do Eiró. Uma está a fiar, outra está a tecer. E estão ambas a cantar.
“O Soajo, ó Soajo, ó terra de cá de cima tens a Peneda por perto, rio Vez e rio Lima”.
Era nos encontros do fiadeiro que as mulheres da aldeia faziam um intervalo nas lides impostas pelo trabalho dos campos, e punham as conversas em dia. Durante a semana, em suas casas. Ao fim de semana, na Casa do Povo, e aí os homens já podiam entrar, era onde se divertiam e se arranjavam namoros mais ou menos definitivos. Há décadas, os “sarões” do fiadeiro eram espaços de liberdade, mesmo que hipervigiados pela moral e os bons costumes.
Hoje em dia, é o Ti Deus quem tem a chave da Casa do Povo, e abre as portas para ensaio a essas mesmas mulheres, que por obra da curiosidade e do acaso, se voltaram a juntar para reviver as tradições. E cantam as cantigas tradicionais que ouviram às mães e às avós.
Foi a curiosidade e a militância de Tiago Pereira, do projeto Música Portuguesa a Gostar dela Própria, que conduziu ao acaso de juntar um grupo de mulheres que permanecem como coletivo nos dias de hoje. Sandra Barreira é soajeira, advogada, e uma espécie de guardiã destas tradições. Vive numa corrida contra o tempo, esperando conseguir captar as memórias dessas soajeiras mais idosas, que são verdadeiras bibliotecas vivas.
Foi também para isso que criou a associação EN(CANTAR) SOAJO – Associação Cultural das Cantadeiras e das Fiadeiras de Soajo, para dar corpo e futuro às tradições. “Pessoalmente, gostava muito que a Associação conseguisse ser uma espécie de guardiã da tradição oral da freguesia de Soajo. E que conseguisse envolver as pessoas mais novas, porque de outra forma não há uma verdadeira transmissão do conhecimento e das tradições”, diz Sandra.
O Soajo é pois, mais do que uma biblioteca e um museu. É um ser vivo e vibrante, onde o passado e o futuro se encontram, com gentes de todas as idades e mundividências. Soajeiros de gema, e soajeiros de coração, tornaram-se todos comunidade.
Mais sobre Soajo
Luís Tiago, o pastor
Trocou a vida da comunicação visual e a correria da cidade para ser pastor na serra do Soajo. Está à frente de um rebanho com 120 ovelhas, rebanho esse que é um investimento familiar e coletivo, uma espécie de rebanho comunitário. Tem um enorme percurso no mundo digital desde o início da World Wide Web e sempre se questionou sobre o impacto da digitalização na natureza. Hoje foca-se na pegada que deixamos no planeta ao usarmos diariamente tantos recursos digitais e defende que são precisos mais pastores para fazer uma gestão saudável e integrada do território de montanha e da paisagem.
Sandra Barreira, a colecionadora de tradições
Advogada de profissão, é por ser profissional independente que admite ter mais tempo para fazer uma das coisas de que mais gosta: garantir coesão e continuidade a um grupo que nasceu de forma informal, as Fiadeiras do Soajo. À conta delas, ganhou o gosto por colecionar tradições e proximidade, e ajudou a fundar uma associação que pretende ser uma espécie de guardiã da tradição oral da freguesia do Soajo.
Rúben Pereira, o criador de garranos
Herdou do avô o gosto pelos cavalos, recebeu o primeiro quando tinha apenas 5 anos de idade. É técnico de Turismo, é quem está, todos os dias, a receber os visitantes do Centro Interpretativo do Soajo onde pode dar asas à paixão que tem por divulgar as tradições da sua terra.
António Neto, o Giacometti do Soajo
Pensou em sair do Soajo a salto, mas o pai emigrado, mandou-o chamar. Foi aos 16 anos que começou a vida de emigrante, passou por Paris e pelos Estados Unidos, e cada ano que passava tinha mais a certeza de que a sua terra era especial. Começou a perceber que as tradições comunitárias da aldeia estavam a desaparecer e sentiu-se impelido a registar tudo com a sua máquina, primeiro de fotografar, depois de filmar também. Empresário da restauração, fotógrafo autodidata, todos conhecem o Tenais e muitos se deixaram fotografar por ele. Por isso é ele o responsável por um importante espólio documental da aldeia e das suas tradições.
Manuel Lage, o soajeiro que dá às raízes movimento
Tem 30 anos e é um homem da montanha em todas as suas facetas. Trocou as boas notas e a escola pela pulsão de descobrir e viajar. E as viagens só o levaram a gostar ainda mais da serra onde nasceu. Tornou-se empresário, lidera viagens de exploração e atividades outdoor na serra onde, diz, sente a veia do amor.
Ler Artigo Manuel Lage, o soajeiro que dá às raízes movimento
Yassine Benderra e Joana Costa, os percursores
Conheceram-se no Porto, ainda adolescentes. Mas foi apenas como jovens adultos, e muitas viagens individuais depois, que tiveram a certeza de que tinham um projeto comum. Foram construí-lo no Soajo onde criaram o “Joyas da Terra”, vivem numa casa off-grid, praticam permacultura, dão formações e, mais recentemente, assumiram também um projeto educativo.
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