Os sinais exteriores de riqueza ainda lá estão todos. No Paço Episcopal, nas casas brasonadas, nos solares rodeados por majestosas quintas e espaços agrícolas. Há muito património edificado de relevo nesta aldeia vinhateira do concelho de São João da Pesqueira mas, como diz o padre Amadeu Castro – que há 25 anos é o “abade” de Trevões -, ainda mais importante é o seu património humano.
As festas em Trevões eram boas. Rijas, longas e animadas. Paula Catarino ia a todas, como todos. E havia muitas festas na região – todos os santos e cada capela impunham uma paragem no calendário para celebrar um evento. E só em Trevões, uma aldeia que também é freguesia no concelho de São João da Pesqueira, há sete capelas a somar à Igreja Matriz de Santa Marinha de Trevões, classificada como Monumento Nacional em 1921.
Razões para festas não faltam e foi numa dessas festas que Paula Catarino começou a namoriscar um vizinho que acabou por se tornar seu marido. Paula Catarino tem 39 anos – “estou quase a fazer 40, mas nem me quero lembrar disso!” – e o seu primeiro filho já tem 21. “Mas esse já abalou para Viseu, que lá tem mais oportunidades de trabalho do que aqui”, explica. Na aldeia continua a filha, de 11 anos, mas já precisa de ir para São João da Pesqueira todos os dias, porque em Trevões o ensino termina na quarta classe.
Paula não censura a escolha do filho, que foi estudar para Viseu e decidiu não voltar a Trevões. Mas não tem vontade de fazer o mesmo. Não só porque ela arranjou o que fazer – trabalha no Museu de Arte Sacra, bem no centro da aldeia -, como gosta dos trabalhos na agricultura que sempre viu toda a gente fazer à sua volta. “Gosto de andar às cerejas, gosto de apanhar azeitona. E gosto de vindima, claro que gosto”.
Nora de pastor, sobrinha de queijeira, filha de agricultores, Paula Catarino é uma mulher que gosta do campo e do trabalho que ele implica. Mas gostava que houvesse mais “agitação”, mais vida na aldeia. Não tanta como a da cidade, mas muito mais do que aquela que, por estes dias, não chega a Trevões. “Nós já não éramos muitos na aldeia. Com a pandemia, as coisas ficaram ainda mais paradas”, diz Paula. Quando não há visitas ao museu, nem gente a passar no adro da igreja – o mesmo adro onde fica o Museu de Arte Sacra e o Museu Etnográfico de Trevões, duas iniciativas do Centro Paroquial de Ação Social, criado pelo padre Amadeu -, o tempo custa muito a passar.
E tempo é o que Paula se habituou a controlar, dando corda ao velho engenho que antes estava na torre sineira da Igreja de Santa Marinha de Trevões e hoje está no Museu de Arte Sacra. Um museu que conta um pouco da história da aldeia, revelando a sua importância através dos riquíssimos paramentos usados na igreja paroquial e nas capelas particulares.
Trevões foi sede de concelho e morada de bispos, que ali mandaram construir (em 1787) um sumptuoso Paço Episcopal – atualmente em mãos particulares e há décadas fechado e abandonado. Houve, aliás, um tempo em que à assinatura “Bispo de Lamego” se acrescentava a nomenclatura “e Abade de Trevões”.
“Mas isso foi noutros tempos”, diz Paula Catarino. “Só espero que esta pandemia passe, e tudo possa começar a normalizar. Agora está muita coisa em suspenso”, suspira. Como se o tempo tivesse parado para descansar – ainda que Paula continue a dar a corda ao relógio, todos os dias.
Entre os exemplos de instituições que ficaram em suspenso, também por causa da pandemia, encontra-se o Museu Etnográfico de Trevões, que está de portas fechadas ao público – mas de que Paula tem a chave e abre a pedido. Está, também, o Rancho Folclórico de Trevões, que levou Paula a fazer quilómetros e quilómetros por todo o país, a dançar ao lado do marido, trajando o fato que se usava na apanha da azeitona. “Morria de calor no verão, mas todos tinham inveja do meu traje quentinho quando atuávamos no dia da Senhora da Conceição, em pleno inverno”, recorda.
Tanto no Museu Etnográfico, aberto em 2001, como no Rancho Folclórico, fundado em 1984, procurou fazer-se um levantamento rigoroso dos costumes que pudessem ser fielmente representados, para que as gerações futuras não se esqueçam de que foi feito o seu passado.
Paula continua a ir apanhar a azeitona, mas já não usa socas nem o lenço de lã merina escura que usavam as suas avós. E o marido já não se levanta no inverno ao toque da buzina, como fizeram os seus antepassados – a buzina da azeitona era o despertador da aldeia, a avisar que eram horas de levantar.
Tocava às 5h00, e a chamada era para sair da cama e preparar o almoço para a jornada. E de novo às 6h30, toque a que o povo respondia com um ajuntamento na praça para seguirem todos juntos, estrada fora, até ao olival pretendido. “A buzina avariou, foi para os bombeiros para arranjar e nunca mais voltou. Também nunca mais houve espetáculos”, diz Paula.
Está muita coisa em suspenso, pois. Mas a vida continua na aldeia de Trevões, que a pandemia pode muito mas não trava tudo. Não trava, por exemplo, o sogro de Paula, Manuel Catarino, que, aos 73 anos, e depois de uma operação a cada joelho, de ter vendido o rebanho e de ter feito partilhas, continua a sair para o monte com as ovelhas da filha, a queijeira Helena Santos, dona da “única queijaria tradicional do concelho de São João da Pesqueira”.
Manuel Catarino lembra-se de ser miúdo e de haver cerca de 30 rebanhos em Trevões. Um deles era dos seus pais – “acho que já nasci no meio de ovelhas”, diz de sorriso largo. Manuel cresceu no meio das ovelhas, fez tropa, foi ao Ultramar. Emigrou para França mas logo voltou. “Também arranjei o meu rebanho. Cheguei a ter 180 ovelhas. Mas no fim era o único que continuava a ter animais aqui na aldeia”, confessa.
Antes, com o seu rebanho, e hoje, com o da filha, continua a sair de casa para pastorear os animais em terrenos que não apenas os seus. “Na verdade, estas quintas abrem-nos as portas porque aquilo que se ouve das cabras sapadores não é treta, é mesmo verdade. Elas ajudam a prevenir incêndios e a adubar os terrenos”, garante. Mas sair com as ovelhas já não é sustento, é distração. E é a certeza de que continua a ser e a sentir-se útil, até porque a operação aos joelhos “correu melhor do que bem”.
Terras de senhores
Os terrenos de Trevões estavam concentrados em poucas famílias. Essa é uma das características diferenciadoras desta aldeia vinhateira cuja história vai para lá da Idade Média – há quem a situe no tempo dos romanos. Independentemente da origem, certo é que Trevões foi terra de senhores, terra de gente muito abastada. Os solares e as casas brasonadas ainda ali estão, de paredes em pé, a confirmá-lo.
Pinho Leal, um dos mais importantes geógrafos que assinou a monumental obra corográfica de final do século XIX, “Portugal Antigo e Moderno”, já dizia de Trevões que “poucas vilas da província da Beira Alta terão tantos palácios brasonados como esta”, pertencentes a famílias de apelidos como Caiados, Gamboas, Almeidas, Coutinhos ou Camelos.
Todas estas famílias deixaram dezenas de herdeiros, mas nenhuma manteve habitantes na terra. Ficaram os caseiros, os funcionários que antes, como hoje, asseguram os trabalhos agrícolas à volta das casas. Os caseiros e, claro, os filhos dos caseiros.
Como Nuno Santos, que tomou o lugar do pai, caseiro na família dos Caiados, proprietária de um dos solares mais impressionantes da aldeia. Esta casa nobre aparece em todos os manuais de arquitetura maneirista e barroca, e é particularmente referenciada pela capela privativa, revestida de pinturas murais da autoria de Pascoal Parente e que a família abria ao povo no Dia da Imaculada Conceição (8 de dezembro).
Nuno tem a chave da casa e da capela. Mas raramente lá entra. A casa está bastante degradada e a precisar de manutenção. Outra casa da família Caiado, conhecida como Solar dos Melos ou Solar dos Caiado Ferrão, também ela de brasão imponente e arquitetura exemplar, está mais bem conservada, com a zelosa manutenção da antiga governanta que lá entra todos os dias.
As preocupações e obrigações de Nuno não são com as casas, mas sim com a quinta. Desde que o pai morreu, há 17 anos, que Nuno ficou a tomar conta de todas as operações nos mais de 200 hectares de produções que vão da vinha ao amendoal, da castanha às maçãs, das nozes às cerejas. Faz enxertias e podas, contrata pessoal para as colheitas, aprende e ensina todos os dias.
Hoje com 36 anos, Nuno não quer outra vida. Gosta de fazer atividades diferentes ao longo do ano, gosta de andar ao ar livre, mesmo que apanhe chuvas e geadas, altas temperaturas e sol abrasador. Não concorda que seja um trabalho sujo, mesmo que tenha lama nas botas e calos nas mãos – “e não preciso de ir ao ginásio, que exercício não me falta”. Sobretudo acredita que o seu trabalho lhe dá saúde e boa disposição. “Uma das coisas de que gosto nesta aldeia é sentir este bom ambiente entre todos. Entramos no café, brincamos logo uns com os outros. Damo-nos todos bem”.
De facto, as gargalhadas começam logo pela manhã num dos cafés da aldeia, ainda antes de começar o dia de trabalho. Numa boa parte dos dias, o padre Amadeu também passa pelo café para ajudar à festa. Diz uma piada a um, atira uma provocação a outro. Recebe sempre réplica. E Amadeu responde sempre, brinca mais, provoca de novo. Na brincadeira, mas com mútuo respeito! É uma forma de começar o dia a acompanhar outro rebanho, aquele que o padre tenta impedir de tresmalhar.
Com 50 anos de vida e 27 na paróquia de Trevões, Amadeu conhece toda a gente e é conhecido por todos. Mesmo pelos que não vão à missa nem frequentam os rituais da igreja. Desde que chegou a Trevões, o “serrano” Amadeu, como ele gosta de se chamar, percebeu que a vivência que quer praticar e ver em prática não se circunscreve à instituição que representa. “O que eu quero é caminhar com esta gente, lado a lado”, explica. E tal implica estar ao lado deles no café, no futebol, na escola, no rancho.
Quando foi colocado em Trevões, Amadeu achou que estava a receber um castigo dos superiores hierárquicos – sabia que as gentes do Douro eram difíceis nos caminhos da fé. Mas acabou por se entregar à população, tentando resolver os problemas que lhes encontrava.
Foi assim que surgiu o Centro Social e Paroquial, onde hoje funciona o Lar de Santa Marinha de Trevões, que emprega 40 funcionários. Foi assim que, na escola onde dá aulas de Religião e Moral, na sede do concelho, acabou a desenvolver o projeto de inovação social Promover e Inovar Mais Perto do Amanhã (PIPA 4G), com vista a melhorar a empregabilidade dos jovens no concelho.
E foi assim que, desafiado pela empresária Luísa Amorim, ajudou a fundar a Associação Bagos D’Ouro para acompanhar famílias mais carenciadas. Hoje, atua em seis concelhos – Alijó, Armamar, Murça, Sabrosa, São João da Pesqueira e Tabuaço – e apoia 200 crianças e jovens e respetivas famílias, dando-lhes acesso às oportunidades que lhes ameaçava faltar. Não faltam exemplos de iniciativas a atribuir ao padre de Trevões.
Amadeu Castro diz que é um privilegiado por celebrar a eucaristia num Monumento Nacional como a Igreja de Santa Marinha de Trevões – uma igreja onde, ao longo dos anos, se foram destapando segredos e tesouros, como frescos do século XIII que entretanto haviam sido tapados por talha dourada. E encanta-se, como todos se encantam, com os solares, os edifícios, os monumentos. Mas, explica, a sua preocupação não é recuperar o património edificado – a prioridade tem de ser, sempre, fixar as pessoas nas aldeias.
“O maior desafio de viver numa aldeia hoje é mantermos as pessoas que temos cá. Tenho medo que no futuro fiquemos apenas e só com o património edificado físico e percamos o melhor património, que é o património humano, as nossas gentes, as nossas comunidades”, confessa. Por isso achou maravilhosa a notícia de que o neto de um grande proprietário da aldeia decidiu regressar e assumir o negócio do avô. “A vinda do Bernardo e da Mariana, e o nascimento da pequena Alice, são uma excelente notícia e um bom exemplo”, afirma Amadeu Castro, desejando que muitos outros lhe sigam o exemplo.
Bernardo Neto é praticamente da idade de Nuno Santos. Mas ao contrário deste, que nasceu e cresceu na aldeia, Bernardo nasceu e cresceu em Lisboa e só vinha a Trevões nas férias. Houve tempos, até, em que nem visitava Trevões. O Douro era apenas uma paisagem a que gostava de voltar, uma memória de férias grandes com o avô.
Filho único e neto único, conheceu Mariana Mendes num festival Boom, há dez anos. Nunca mais se largaram, mas não começaram logo a pensar mudarem-se de armas e bagagens para o Douro. Foi só há cerca de quatro anos que Bernardo começou a pensar nisso mais a sério.
Depois de perceber que o curso de tradução e as atividades daí resultantes não o faziam feliz, começou a questionar-se por que haveria de tentar montar um negócio de raiz quando no Douro tinham um já montado. A Quinta Fonte do Lobo funcionava na linha de água – faturava o suficiente para pagar aos funcionários que ali mantinha a trabalhar. Era preciso dar-lhe um impulso, acompanhá-la, fazê-la crescer. Primeiro, Bernardo veio sozinho. “Queria perceber se aguentava aqui um inverno. Que isto de verão é muito fixe e muito animado, mas de inverno como seria?”, explica.
Bernardo aguentou. E, mais do que isso, gostou. Mariana chegou um ano depois, duas semanas antes do eclodir da pandemia. Veio na expectativa de trabalhar no enoturismo de um hotel da região. Mas o contrato acabou cancelado – afinal, os hotéis fecharam durante o início da pandemia. Ela não deixou cair os braços, agarrou na parte comercial do negócio e montou uma página online para vender amêndoas biológicas produzidas na quinta.
Dois anos depois da chegada, já diz que foi a melhor decisão que tomou. “Só posso dizer que ainda não vi Trevões em todo o seu potencial, e já gosto muito de tudo o que vi e vivi”, confirma Mariana. E agora aguarda com expectativa os momentos em que a normalidade regresse à aldeia e ao país. Para que os amigos que têm resistido a fazer visitas apareçam, então, em Trevões. E para que veja crianças a brincar na rua, que era algo que esperava encontrar mas ainda não vislumbrou.
“Não sei se não há crianças, se os pais não as deixam brincar na rua ou se são elas que também preferem os ecrãs. Acho que vou mesmo ter de arranjar um irmão para a Alice para ver os dois na rua e ver crianças a brincar como sempre imaginei”, antecipa. A jovem formada em artes admite que também nas aldeias há desafios – sobretudo para as mulheres trabalhadoras agrícolas. “Antes havia muita gente em casa, alguém podia olhar pelas crianças. Hoje em dia, para mandarem as crianças para a creche e poderem ir trabalhar, têm de acordar os miúdos às 04h00 para apanharem a carrinha para a única creche que há, na Ervedosa”, relata.
Conscientes do privilégio que tiveram ao não precisarem de montar um negócio de raiz, Mariana e Bernardo procuram agora dar asas ao sonho. Projetam recuperar a velha casa do caseiro para fazer um alojamento turístico. E alargar a família.
Há alguns inconvenientes de viver numa aldeia do Douro – a cerca de uma hora de estrada de qualquer auto-estrada. Mas há, também, muitas vantagens. E Mariana, uma urbana assumida, deixa-se deslumbrar pela passagem das estações, que encara de cada vez que olha a sua janela ou percorre os trilhos da propriedade.
“Nem consigo escolher entre as estações. O outono é aquela profusão de cores deslumbrantes nas vinhas; a primavera traz o verde, as amendoeiras em flor. Mas até no inverno, quando as árvores e as vinhas estão mais despidas, eu entendo que há poesia. É um ambiente cenográfico”, afirma.
É por essa cenografia, pela hospitalidade e pelas experiências que é possível vivenciar no Douro que Mariana acredita que será uma boa aposta investir em oferta turística na aldeia. Até porque até agora só existem as Casas do Prior – também elas impulsionadas pelo padre Amadeu Castro -, pelo que há muito espaço para fazer crescer a oferta. “Um passo de cada vez”, avisa, com a certeza de quem tem tempo para o conseguir.
Antes disso ainda se espera que regressem à aldeia as festas e romarias, as procissões e a reabertura do Museu Etnográfico, da responsabilidade da Associação Sócio-Cultural de Trevões. E espera-se que regresse à normalidade o tempo que tem estado numa espécie de suspensão – até a octogenária Cassilda de Lurdes, guardiã da Igreja Matriz, que abre as portas do monumento e conta intermináveis histórias sobre a aldeia e os seus senhores, e sobre a igreja e os seus segredos, está à espera de melhores dias e de recuperar de uma queda para voltar a fazer o que sempre fez: abrir as portas da igreja e organizar os paramentos para todas as celebrações.
Além da de Trevões, o padre Amadeu Castro está à frente de mais quatro paróquias. A ajuda de voluntárias como Cassilda é fundamental para que tudo funcione. E para que ele tenha um pouco mais de tempo no muito tempo que lhe falta para chegar a tudo. Dependente de um relógio, Amadeu consegue fazer render as 24 horas de cada dia graças a uma energia – e uma alegria! – contagiante que parece infindável.
De scooter ou de Mercedes, Amadeu Castro vai a todo o lado. E, quando não vai, telefona. Mas os recados não ficam por dar – e as mãos que encontrar pela frente também nunca ficam estendidas. Há sempre uma forma de dar corda ao relógio. E Paula Catarino também sabe disso.
Veja também o guia prático com o que fazer em Trevões.
Mais sobre Trevões
O que fazer em Trevões (guia prático)
Guia com tudo o que precisa saber para visitar Trevões, na freguesia de São João da Pesqueira, distrito de Viseu. Inclui o que fazer na aldeia – museus, solares e passeios -, onde ficar hospedado, mapas e contactos úteis.
Amadeu Castro, o padre
Natural da serra do Montemuro, quando foi colocado em estágio no Douro achou que era castigo. Agora com 51 anos de idade e 27 de pároco na aldeia, Amadeu Castro é uma das principais figuras de Trevões onde dinamiza várias coletividades e instituições. Dá tanta importância ao trabalho social como à componente religiosa, e isso dá-lhe uma sensação de felicidade tremenda por se sentir útil e presente.
Cassilda de Lurdes, a zeladora
Ninguém conhece a Igreja de Trevões como Cassilda de Lurdes, uma mulher com 85 anos e que desde os nove, todos os dias, entra naquele monumento. Não só sabe dos segredos e das histórias da igreja, como tem memória viva do quotidiano na aldeia, que procurou ajudar a perpetuar nos museus abertos ao público logo ali no adro.
Helena Santos, a queijeira de Trevões
Com 44 anos, as memórias e as fotografias mais antigas de Helena Santos confirmam que começou a fazer queijo com a avó há mais de 40 anos. Fez muito queijo ao lado da mãe e agora está a ensinar a filha. Perpetua a tradição da família, onde sempre houve pastores, e tem a única queijaria tradicional do concelho de São João da Pesqueira.
Bernardo Neto, o jovem produtor
Nasceu e cresceu em Lisboa, e vinha passar férias a Trevões, terra do avô materno. Tirou o curso de tradução, mas cansou-se da secretária e da burocracia e rumou à aldeia para investir no negócio da família e afirmar-se como produtor em amêndoa biológica. Convenceu a namorada – “não foi muito difícil” – a acompanhá-lo e já contribuíram para o aumento da natalidade em Trevões.
Nuno Santos, o enxertador
Aprendeu com o pai, aperfeiçoou-se com muitos anos de prática. Nuno Santos, 36 anos, é um enxertador muito requisitado não só na região, mas no país. Está há 17 anos à frente de todos os trabalhos agrícolas da quinta que pertenceu à família dos Caiados, uma das mais importantes de Trevões. Junto com o irmão, António, passam os dias no campo e dizem que não se veem a fazer outra coisa.