Guia com tudo o que precisa saber para visitar Trevões, na freguesia de São João da Pesqueira, distrito de Viseu. Inclui o que fazer na aldeia – museus, solares e passeios -, onde ficar hospedado, mapas e contactos úteis.
O que fazer em Trevões
Visitar Igreja Matriz de Santa Marinha de Trevões
Ao observar o seu exterior, poucos imaginarão os tesouros guardados no interior da Igreja Matriz de Santa Marinha de Trevões. Lá dentro, no epicentro da aldeia de Trevões, o piso é lajeado com tampas sepulcrais; o teto é lindíssimo e forrado a “caixotões de madeira pintados com motivos vegetalistas”; e o vistoso retábulo-mor de talha dourada impressiona desde o primeiro instante. E mal sabia o que se escondia para lá do retábulo…
Foi o Padre Amadeu Castro que deu o mote. Primeiro, ainda na nave central, mostrou um altar de talha dourada deslizante em cujas traseiras se podia ver um fresco em bom estado de conservação. Depois, apontou para o retábulo-mor e encaminhou-me para uma pequena entrada lateral, onde a surpresa foi total. Wow!
A parede ao fundo da igreja de Trevões, visível fruto de uma engenhosa deslocação para a frente do retábulo-mor, estava coberta de frescos, dominados pela figura de Santa Marinha, orago da igreja paroquial de Trevões.
Visitar o Museu Etnográfico de Trevões
Menino dos olhos do Padre Amadeu, o Museu Etnográfico de Trevões ocupa uma antiga casa de habitação localizada no adro da igreja, e tem como objetivo “guardar a memória da povoação, transmitindo aos seus habitantes a continuidade e diversidade local, mostrando-lhes as suas raízes e tradições”. O museu, onde se recriam espaços ligados à vida da freguesia, foi organizado pela Associação Sócio Cultural de Trevões e inaugurado em setembro de 2001.
Para a construção da estrutura museológica, foi perguntado à população se não teriam coisas antigas que estivessem em desuso e pudessem ser doadas e restauradas para fazerem parte do espólio do museu.
Por tudo isso, entrar no Museu de Trevões é uma espécie de viagem no tempo pela cultura, modo de vida e tradições dos habitantes da aldeia. Em exibição encontram-se “memórias e relíquias da vida dos seus antepassados”, incluindo peças decorativas, ferramentas, roupas e mobiliário antigos, para “dar a conhecer os costumes e modos de vida passados, tentando desta forma criar um elo entre as diferentes gerações”.
Tudo somado, recomendo vivamente a visita ao Museu Etnográfico de Trevões. É pequeno mas muito, muito interessante.
Museu de Arte Sacra
Instalado num pequeno edifício no centro da aldeia, “o Museu de Arte Sacra e Oficina da Cultura de Trevões tem como objetivo central a preservação e divulgação do património cultural” de Trevões, com ênfase natural na Arte Sacra.
Além do espólio ligado à Arte Sacra, tem também no seu interior um relógio maravilhoso, ainda hoje em funcionamento.
Reparar nos solares de Trevões
Fruto da presença de famílias abastadas, a aldeia de Trevões exibe um património edificado riquíssimo, de que são exemplos maiores os inúmeros solares que pontificam a malha urbana do povoado.
São disso exemplo o Solar do Paço Episcopal, que pertenceu aos bispos de Lamego; o Solar dos Caiados, e o Solar dos Melos, onde existe uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição (infelizmente fechada e em notório processo de degradação); e a Casa do Adro, mandada erguer em 1605 por Baltazar de Almeida Camelo; entre outros.
Manda a verdade dizer que os solares de Trevões estão atualmente fechados ao público e, muitos deles, em mau estado de conservação. Assim, para o visitante, resta admirar os solares a partir do exterior, apreciando a monumentalidade dos edifícios, as fachadas e os brasões. Mas, ainda assim, vale a pena reparar nos solares da aldeia, já que fazem parte importante da história de Trevões.
Apreciar a vista a partir do Miradouro de São Paio
Do alto dos seus 910 metros de altitude, o Miradouro de São Paio é o mais elevado de São João da Pesqueira. Possui uma capela dedicada a São Paio e um parque de merendas mas, para o visitante, o mais apelativo são as vistas desafogadas sobre a região envolvente, com a aldeia de Trevões e campos de cultivo no sopé do monte.
Para mim, é especialmente bonito com os primeiros raios de sol matinais, altura em que as nuvens baixas podem acrescentar beleza e misticismo à paisagem. Para lá chegar, é preciso percorrer uma antiga estrada romana, localmente denominada de “calçada histórica”, sem dificuldades de maior (dá para ir de carro) mas muito bonita. A incluir no plano de visita a Trevões, portanto.
Fazer a Rota dos Castanheiros (PR1 São João da Pesqueira)
Para quem tiver interesse em caminhadas, e descontando a Grande Rota do Vinho, saiba que há um trilho que começa em Paredes da Beira e passa perto de Trevões; e que pode muito bem ser o complemento ideal para a sua visita à freguesia. Chama-se Rota dos Castanheiros, tem 13,8 km de extensão e um grau de dificuldade relativamente baixo. Caso não saiba o que fazer em Trevões, fica a sugestão.
Veja o folheto informativo sobre a Rota dos Castanheiros (PR1 São João da Pesqueira) no site da Câmara Municipal.
Provar os queijos da Dona Helena
Helena Santos nasceu e cresceu em Trevões e aprendeu a fazer queijo com a sua avó Celeste. No ano de 2014, decidiu abrir a Queijaria Tradicional Vale Parada que, apesar de ter instalações modernas, continua a fazer o queijo de forma tradicional, amassado com as mãos e contendo apenas leite, coalho e sal.
Fica no Largo da Devesa, em Trevões, e é um ótimo local para comprar os queijos – frescos, curados e uma versão picante (com malagueta) – e levar um pouco de Trevões para casa. Fica a dica.
Para mais informações sobre os queijos disponíveis e respetivos preços, visite a página no Facebook da Queijaria Tradicional Vale Parada.
Explorar o centro de São João da Pesqueira…
Estando na região, seria uma pena não aproveitar a oportunidade para visitar São João da Pesqueira. Especialmente o centro histórico da vila, onde pontificam locais como a belíssima Praça da República. É lá que se encontra a Capela da Misericórdia, em cuja fachada brilham dois painéis de azulejos magníficos. Mas não é tudo.
Entre outros atrativos, e sem prejuízo de caminhadas sem rumo à descoberta do centro histórico, destaque para a icónica Rua dos Gatos, para o edifício dos Paços do Concelho e para o palacete conhecido como Casa do Cabo. E, claro está, para o magnífico Museu do Vinho, surpresa maior da minha passagem por São João da Pesqueira.
… e visitar o Museu do Vinho
Uma grande surpresa. Foi o que senti ao visitar o fantástico Museu do Vinho de São João da Pesqueira. Instalado num edifício com uma arquitetura sublime, o museu explica, de forma didática e interativa, muito do que há para saber sobre a produção vitivinícola nos socalcos da região demarcada do Douro. É, na minha opinião, um museu sobre a vinha e o vinho absolutamente imperdível.
O Museu do Vinho abre diariamente das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00; a entrada custa 4€ e inclui um áudio-guia e uma prova de um vinho da região.
Miradouro de São Salvador do Mundo
“Considerado o maior santuário do Alto Douro Vinhateiro, é constituído por um conjunto de capelinhas que se erguem ao longo do monte, remontando as mais antigas ao século XVI. Nas últimas décadas do século XVI, o Ermo foi habitado por Frei Gaspar da Piedade que, depois de ter peregrinado pela cidade de Roma e pela Palestina, regressou e construiu uma capela onde depositou uma relíquia que trouxe do Oriente, um osso do braço de São Jerónimo. Os vários vestígios arqueológicos que se encontram no local testemunham a existência de ocupação humana pelo menos desde o período pré-romano.”
in site oficial da Câmara Municipal de São João da Pesqueira
Localizado a escassos 5 km de São João da Pesqueira, o Miradouro de São Salvador do Mundo oferece vistas sobre o rio Douro a partir de dois pontos distintos. Num deles, as curvas do Douro em todo o seu esplendor, com o Cais da Ferradosa no horizonte; no outro, mais acima, junto à capela e com o rio mais distante, a eclusa da barragem da Valeira e o Cachão da Valeira, famoso por ter sido o local da morte do Barão de Forrester.
Estando em São João da Pesqueira, diria que vale a pena fazer o desvio adicional. É mais um daqueles locais do concelho que vale a pena visitar.
Gastronomia e onde comer
Com o encerramento do restaurante O Casarão (agora funciona apenas como café), não há atualmente restaurantes em Trevões. Assim, caso não queira – ou não possa – cozinhar no alojamento, terá de fazer as refeições nas aldeias vizinhas ou na vila de São João da Pesqueira. E isso, na verdade, tem o lado positivo de obrigar o visitante a conhecer melhor a região.
Assim, recomendo sem reservas o restaurante O Cruzeiro, localizado na vizinha aldeia de Paredes da Beira, a 7 km de Trevões. É um restaurante surpreendentemente grande e moderno, com pratos do dia generosos e baratos. Em suma, um restaurante bom e barato que aconselho vivamente.
Caso decida visitar São João da Pesqueira, posso recomendar o excelente Adega da Ana, onde acabei por fazer duas refeições (prato do dia) baratas e absolutamente divinais. É um restaurante sem luxos, onde se recebe muito bem e se come ainda melhor. Alternativamente, há outros restaurantes em São João da Pesqueira muito recomendados, como é o caso do Cantiflas – mas acabei por não experimentar.
Quanto a cafés, na aldeia de Trevões opte pelo Café Central e pelo já referido O Casarão.
Produtos regionais de fabrico artesanal
Mesmo sem o mediatismo do moscatel de Favaios, a região de São João da Pesqueira tem alguns produtos gastronómicos a que vale a pena estar atento. Desde logo, vinhos como o Cadão, produzido pela Mateus & Sequeira; ou ainda as amêndoas biológicas oriundas da Quinta da Fonte do Lobo, em Trevões. Vale a pena provar.
Onde ficar em Trevões
Há apenas um alojamento local (legalizado) onde ficar em Trevões mas, felizmente, é de grande qualidade. Trata-se de um edifício recuperado pelo Centro Social Paroquial de Trevões, localizado em frente à igreja e chamado Casas do Prior, que oferece quatro quartos fantásticos distribuídos por duas casas.
Relativamente perto de Trevões, junto a Paredes da Beira, o Montanhas do Douro Resort & Spa é um alojamento que oferece casas independentes com relação qualidade/preço aceitável (a decoração é, digamos, estranha, mas pode ser uma opção, caso as Casas do Prior estejam lotadas). Melhor ainda, um pouco mais longe de Trevões mas ainda dentro do concelho de São João da Pesqueira, considere ficar na Quinta do Ventozelo. Já lá fiquei hospedado e é, seguramente, um dos melhores hotéis do Douro.
Alternativamente, dormir em São João da Pesqueira, sede do concelho, é sempre uma opção a considerar. Veja, por exemplo, a Veloso Village Douro Valley, uma excelente unidade de alojamento local no coração de São João da Pesqueira.
Seja como for, pesquise alojamento em Trevões (e proximidades) usando o link abaixo, tendo o cuidado de reservar com a máxima antecedência possível.
Quantos dias dormir na aldeia
Depende, obviamente, do objetivo da visita. Como turista, um dia dá para ficar com uma excelente ideia da aldeia de Trevões, visitar os seus pequenos museus e fazer um ou outro passeio nas redondezas.
Mas, na minha opinião, para vivenciar um pouco melhor a vida na aldeia, conhecer os seus habitantes e explorar o concelho de São João da Pesqueira convém, naturalmente, delongar-se um pouco mais – um fim de semana completo, por exemplo. Assim, recomendo vivamente que pernoite em Trevões (em vez de ir e voltar no mesmo dia), passando pelo menos dois dias na região.
Seguro de viagem
Mesmo em Portugal, não deixe de viajar com a tranquilidade de ter um seguro que o proteja em situações inesperadas. A esse respeito, a IATI Seguros tem um seguro de viagem barato e desenhado para pequenas viagens – chamado IATI Escapadinhas -, que é, provavelmente, o melhor e mais completo seguro para viajar em Portugal. Faça uma simulação no link abaixo.
Mais sobre Trevões
Os solares da aldeia e o abade de Trevões
Os sinais exteriores de riqueza ainda lá estão todos. No Paço Episcopal, nas casas brasonadas, nos solares rodeados por majestosas quintas e espaços agrícolas. Há muito património edificado de relevo nesta aldeia vinhateira do concelho de São João da Pesqueira mas, como diz o padre Amadeu Castro – que há 25 anos é o “abade” de Trevões -, ainda mais importante é o seu património humano.
Amadeu Castro, o padre
Natural da serra do Montemuro, quando foi colocado em estágio no Douro achou que era castigo. Agora com 51 anos de idade e 27 de pároco na aldeia, Amadeu Castro é uma das principais figuras de Trevões onde dinamiza várias coletividades e instituições. Dá tanta importância ao trabalho social como à componente religiosa, e isso dá-lhe uma sensação de felicidade tremenda por se sentir útil e presente.
Cassilda de Lurdes, a zeladora
Ninguém conhece a Igreja de Trevões como Cassilda de Lurdes, uma mulher com 85 anos e que desde os nove, todos os dias, entra naquele monumento. Não só sabe dos segredos e das histórias da igreja, como tem memória viva do quotidiano na aldeia, que procurou ajudar a perpetuar nos museus abertos ao público logo ali no adro.
Helena Santos, a queijeira de Trevões
Com 44 anos, as memórias e as fotografias mais antigas de Helena Santos confirmam que começou a fazer queijo com a avó há mais de 40 anos. Fez muito queijo ao lado da mãe e agora está a ensinar a filha. Perpetua a tradição da família, onde sempre houve pastores, e tem a única queijaria tradicional do concelho de São João da Pesqueira.
Bernardo Neto, o jovem produtor
Nasceu e cresceu em Lisboa, e vinha passar férias a Trevões, terra do avô materno. Tirou o curso de tradução, mas cansou-se da secretária e da burocracia e rumou à aldeia para investir no negócio da família e afirmar-se como produtor em amêndoa biológica. Convenceu a namorada – “não foi muito difícil” – a acompanhá-lo e já contribuíram para o aumento da natalidade em Trevões.
Nuno Santos, o enxertador
Aprendeu com o pai, aperfeiçoou-se com muitos anos de prática. Nuno Santos, 36 anos, é um enxertador muito requisitado não só na região, mas no país. Está há 17 anos à frente de todos os trabalhos agrícolas da quinta que pertenceu à família dos Caiados, uma das mais importantes de Trevões. Junto com o irmão, António, passam os dias no campo e dizem que não se veem a fazer outra coisa.
Amêndoas biológicas da Quinta da Fonte do Lobo
O Alto Douro é conhecido não apenas pelas suas vinhas mas também pelo amendoal que, quando florido, torna inesquecíveis as suas paisagens. A Quinta Fonte do Lobo, em Trevões, produz e comercializa amêndoa biológica há mais de 20 anos. E aceita encomendas online.