São cada vez mais raros os momentos em que os fornos escavados na terra em plena aldeia de Bisalhães, em Vila Real, se enchem de peças de barro, se vestem de fogo e de fumo, e cozem a louça que se tornou um símbolo de concelho e Património da Humanidade. São raros, mas existem e resistem. A tradição do barro preto de Bisalhães ainda é o que era -, e há quem esteja empenhado em que continue a ser.
É um trabalho familiar. É um trabalho de equipa. É um trabalho comunitário. E é, também, uma celebração que serve para juntar muitos habitantes da aldeia e marcar um convívio que se vai tornando cada vez mais raro. Participar na cozedura de louça em Bisalhães, num dos tradicionais e arcaicos fornos existentes na aldeia, é ver a história a respeitar-se e o património a engrandecer-se.
E é por ser cada vez mais raro que, afinal, o momento de cozedura de uma fornada de louça em Bisalhães é também um dia de celebração. É o culminar de um processo lento, trabalhoso, envolvente, difícil e, dizem os mais novos oleiros que abraçaram esta profissão, apaixonante.
Miguel Fontes
A minha maior motivação é continuar aquilo que eles (oleiros) viviam, manter o seu legado. Porque eles gostavam verdadeiramente daquilo que faziam.
Inscrita na lista de Património Cultural Imaterial da Humanidade desde 2016, a Olaria de Bisalhães distingue-se de todas as outras por causa do seu processo de confeção, arcaico e ancestral em todas as suas etapas, desde que a argila é escavada da terra até que se transforma em louça utilitária ou decorativa.
É a forma como é cozida esta louça de barro que lhe confere a cor negra que a torna tão distintiva. E é por ser cada vez mais raro que, afinal, o momento de cozedura de uma fornada de barro preto de Bisalhães é quase um dia de celebração.
O barro preto de Bisalhães
Naquele dia 25 de março, depois de muitas vezes adiado – por causa do calor e dos perigos de incêndio, da ameaça de chuva ou até por indisposições súbitas -, ia finalmente cozer-se uma fornada. A louça pacientemente feita pelos poucos oleiros que mantém a tradição da aldeia ia ser amontoada no forno, tapada com giestas e terra, ser submetida a altas temperaturas e ganhar a cor que a tornou reconhecida nos quatro cantos do mundo.
Longe dos tempos em que havia mais de 60 oleiros na aldeia de Bisalhães, e que o forno comunitário mal chegava para cozer tanta louça, naquele sábado seguia para o forno a louça de três oleiros. A louça do mais velho oleiro ainda em atividade, Cesário Martins, com 91 anos, e a louça dos dois mais novos – tanto em idade como na atividade.
Miguel Fontes é o mais novo oleiro de Bisalhães, e tem 44 anos. O tio, Leonel Ribeiro, tem 61 anos, e foi o último a aventurar-se a fazer desta arte uma profissão.
Nesta cozedura juntaram-se ainda as peças feitas pelos formandos de um curso de Formação em Olaria, do portfólio de oferta do Instituto e Emprego e Formação Profissional, orientado por Constantino Fontes, pai de Miguel. Ali somadas, foram seguramente bem mais de dois milhares de peças pacientemente empilhadas, umas por cima das outras, quase o dia não tinha ainda despontado.
Explica Constantino que, quando havia muitos oleiros a fazer diariamente peças de louça, era preciso acender o forno mais vezes. Agora, que há poucos oleiros, e menos ainda a dedicarem-se em exclusividade à profissão, é preciso juntarem-se os consortes e esperar alguns meses para que o conjunto das peças justifique uma cozedura. “É que um dia de cozedura é um dia de muito trabalho”, acrescenta o formador, lembrando que dá tanto da trabalho cozer 50 peças como 500.
A cozedura vai ser feita num dos fornos de herdeiros da aldeia. Já estava desabilitado há muitos anos, mas a família Fontes resgatou-o para evitar o forno comunitário, localizado numa zona com piores acessos. Este está à face de uma estrada, pelo que há uma tarefa da complexa teia de trabalhos da cozedura do barro preto de Bisalhães que sai facilitada: a do transporte de panelas e púcaros, alguidares e assadeiras, bilhas de rosca e de segredo, candeeiros e castiçais, e tudo o que de mais pode sair da criatividade e do talento dos oleiros.
“Antigamente, tínhamos de vir com a louça à cabeça, em cestos enormes e pesados, desde a oficina do oleiro até à boca do forno. Quando as peças são pequeninas, trazemos muitas de uma vez, mas é muito pesado. Quando as peças são grandes, temos de trazer poucas de cada vez, mas temos de fazer mais viagens”, diz Lina Carvalho, moradora em Bisalhães, mãe de um engenheiro e de um doutor, como se lhe refere Querubim Rocha, o mais experiente oleiro em atividade.
Lina já trabalhou, e trabalha, com todos os oleiros. Só não casou com um, brinca. Nunca saiu de Bisalhães, e já fez quase todos os múltiplos trabalhos que envolve esta atividade. Inclusive, diz ela, “a pior de todas”: preparar o barro.
Pico e pio
Antes de voltarmos à cozedura, importa saber como é que da terra se faz barro, antes do barro se fazer louça. É também a especificidade desse processo que explica o carácter patrimonial desta tradição.
A terra argilosa já não vem de Parada de Cunhos, uma freguesia vizinha de Mondrões, onde todos os oleiros de Bisalhães se forneciam. Desde que ali fechou a fábrica de cerâmica, os de Bisalhães vão até Chaves buscar a argila, a uma outra fábrica de cerâmica. Trazem-na em largas quantidades e armazenam-na perto de casa, no “armazém do barro”.
A partir dali, seria preciso tratar do barro como quem trata de uma qualquer sementeira: mexê-lo, de tempos a tempos, para não secar. Remexê-lo, de tempos a tempos, para para não ficar húmido. Estendê-lo sobre a pedra ao sol, se fosse preciso, para ganhar as propriedades desejadas.
Miguel Fontes nasceu e cresceu junto a um desses armazéns. E ainda usa o barro que ali estava guardado pelo seu avô há quase três décadas. Sempre que pode e que precisa vai lá buscar um ou dois baldes.
Querubim Rocha, que faz mais peças, e por isso gasta mais barro, foi recentemente buscar dois camiões de argila com a ajuda de Félix Touças, presidente da Junta de Freguesia. “Já tenho barro até morrer”, diz o oleiro. “Fazemos o que podemos e conseguimos para garantir que a tradição não morre. E há sempre muitos desafios”, diz o autarca.
Pegando neste barro é depois preciso “picá-lo” – isto é, com um pesado macete de madeira (o pico), bater-lhe de forma sincopada dentro de um amplo alguidar de pedra (o pio) até ficar em pó. Depois, é preciso peneirar esse pó, deixá-lo grosso se for para fazer louça utilitária, como os alguidares e as assadeiras (a louça churra, como lhe chamam), ou fazê-lo chegar a um pó muito fino, se for para fazer louça decorativa, como as bilhas de segredo ou as bilhas de rosca.
Estas últimas, assim batizadas pela sua curiosa forma anelar, estilizada mas sem perder a função de armazenar e servir água fresca, tornaram-se símbolo da aldeia e da olaria local – o barro preto de Bisalhães.
Ao barro picado feito em pó vai-se juntando água e amassando como quem amassa pão. E estas eram as tarefas que competiam às mulheres – esposas e filhas de oleiros.
Miguel usa o barro que a mãe Belmira e o pai Constantino lhe preparam para trabalhar quando chega da sua principal ocupação, como técnico de informática na Câmara Municipal de Vila Real.
Desde que lhe morreu a mulher, Silvia Capelas, Querubim pede ajuda ao filho Franklin e à filha Aurora, mas já é quase sempre ele quem prepara o seu próprio barro. Leonel tem a ajuda do filho, para picar o barro, e da sogra, Lídia Pires, para amassar.
Cesário Martins inventou um processo mais prático para picar o barro: usa as rodas da sua carrinha de caixa aberta para amassar o barro até onde lhe puder poupar os braços. De resto, prepara-o ele: “amasso um bocadinho por dia, para fazer uma peça ou duas e poder estar aqui entretido”, revela o nonagenário.
Mas o papel das mulheres não termina com a preparação do barro. Os oleiros ficavam com o trabalho da execução das peças – o trabalho na roda propriamente dito. As mulheres é que punham nas peças as respetivas asas, pernas e bicos. E também eram elas quem gogava as peças – gogar é polir a louça, alisá-las pacientemente, até quase terem brilho. E quem fazia os desenhos para a decoração das peças.
Lídia Pires lembra-se de trazer seixos do leito do rio Douro, de cada vez que ia, a pé, “sempre a pé!”, para a romaria da Santa Eufémia. “Goguei muita louça com estas pedrinhas. E já não estava à espera de poder gogar louça outra vez. Mas ajudo o meu genro sempre que posso”.
Querubim queixa-se da falta que lhe faz a mulher, Sílvia Capelas. “A minha sorte é que aprendi a desenhar com ela ainda viva, porque agora quem tem mesmo de fazer tudo sou eu”, refere o oleiro, viúvo há quase uma década. Césário Martins faz poucas peças decoradas – faz sobretudo louça churra, para se entreter. “Os alguidares e as assadeiras são o que tem mais procura. E eu ainda tenho muitos alguidares para fazer”, afirma, com a autoridade dos seus já 91 anos.
A avançada idade de Cesário já não lhe permite ter muita atividade junto do forno. Mas não arreda pé, nem esmorece a atenção à coordenação de trabalhos que Constantino, Leonel e Miguel estão a fazer naquela manhã.
A cozedura do barro
A agitação começou quando passavam poucos minutos das seis da manhã. O forno já tinha sido desentulhado e limpo de véspera, só era preciso a luz do dia para começarem a acartar a louça e a empilhar as peças a partir do “peão”, uma pedra estrategicamente colocada a meio do forno para servir de apoio (e caixa de ar) às primeiras peças de louça.
As peças eram muitas, e foram sendo colocadas com muito cuidado. Desde o último São Pedro que nenhum dos três oleiros cozia. Havia mesmo muitas peças. E cada um dos oito formandos que passou os últimos dois meses a tentar aprender a arte trazia uma boa caixa com peças.
Constantino Fontes
Um dia de cozedura é um dia de muito trabalho.
Primeiro foram espalhadas em volta do forno, ao longo da terra enegrecida de outras queimas, para depois serem escolhidas consoante o tamanho e a necessidade. A empreitada de colocar toda a louça no forno terminou pouco antes das oito da manhã. A pilha de louça subia metros e metros. “A altura do forno não importa. Desde que haja terra para a tapar, a pilha de louça pode chegar até ao céu”, brinca Constantino.
Ainda antes de acender o forno, foi preciso “chegar a terra à louça, para depois ajudar no tupir”. Chegar a terra é acomodá-la, com uma ligeira pressão, no fundo da pilha de louça. Tupir é a expressão que explica a tarefa de tapar completamente toda a louça com giestas, ramos, musgo e terra, de forma a abafar a louça por completo, para que o fumo no seu interior dê o desejado tom escuro à louça.
Aceso o forno, demoraram largos minutos a ver-se (ou a sentir-se) as chamas a pegar, a ganharem lastro, intensidade. Foi só perto das 9h00 que as mãos carregadas de ramos de carqueja e giestas e as pás carregadas de terra começaram a tapar a louça, processo que demorou uma boa meia hora, mesmo que fossem tantas as mãos e as pás.
Com a fornada integralmente tapada – ou tupida – demorou menos de dez minutos “ouvir-se a louça a roncar”. Constantino explica que o som gutural que sai de dentro do forno é aquele que o fogo faz a tomar a louça e os espaços vazios que encontra entre elas. Por isso é importante que a louça esteja completamente tapada, ou, como se diz em Bisalhães, “bem tupida”.
“O forno não pode respirar por lado nenhum”, avisa Constantino. Por isso Miguel correu a reparar a frente do forno, colocando argila a impedir que as frinchas existentes junto à porta do forno abrissem (chegaram a sair labaredas!). O preço a pagar quando o forno não está bem tupido é demasiado alto: a louça fica com manchas, mal cozida. E precisa de voltar ao forno na cozedura seguinte.
Durante quase duas horas, aqueles milhares de peças de louça estiveram à mercê do calor e do fogo, desenhando no céu colunas de fumo de várias intensidade e cores. Enquanto o fogo fazia o seu trabalho era tempo, finalmente, de poder relaxar um pouco e matar fome e sede com a comida que a irmã de Miguel tratou de acomodar na caixa aberta da carrinha já descarregada de louça. Agora sim, confraternização, convívio, pão e queijo, bôla e bolo, sumos e gargalhadas, e alguns copos de vinho.
Sem haver nunca recurso a termómetros, manómetros ou qualquer tipo de indicadores que permitissem monitorizar o grau de cozedura da louça, é a experiência destes oleiros que dá alguma garantia de que tudo vai correr bem.
Mas todos admitem surpresas. “Nunca sabemos como vai sair”, diz Miguel. “Esperamos sempre que corra bem”, afirma Constantino. “Só quando vemos as peças cá fora, uma a uma, é que sabemos se correu bem ou não, quantas ficaram prontas, quantas precisam de cá voltar”, acrescenta Leonel. Cesário, sempre por perto, mas suficientemente longe para não atrapalhar, tem a certeza de que “vai tudo correr bem”.
Foi já perto das 12h00 que Constantino começou a atirar terra para o fundo do forno. O objetivo agora é diferente. Arrefecer as brasas para que, quando se começar a libertar a louça e a desempilhar o forno ela esteja um pouco menos quente. Ainda assim, tirar peça por peça, sabendo que elas chegaram a atingir os mil graus centígrados e pouco tempo tiveram para arrefecer exige perícia, cuidado, atenção.
Começava agora nova empreitada. Tirar a louça, separá-la, limpá-la. Cada oleiro e familiares tratava de identificar as suas peças, para fazerem o mesmo caminho de volta.
Para os formandos, era tempo de surpresa, de tristeza e de satisfação. Algumas peças quebraram-se, outras ficaram melhores do que o previsto. Todas foram recolhidas com desvelo e devoção. Afinal, os formandos sabiam que estavam a participar num momento histórico – património da humanidade.
O futuro do barro preto de Bisalhães
Desde 2016, altura em que foi classificada, que a Olaria de Bisalhães está também listada como Património Cultural Imaterial da Humanidade que Necessita de Salvaguarda Urgente. Quando em 2014 a Câmara Municipal de Vila Real a inscreveu no inventário do património cultural imaterial nacional (percursor da candidatura a Património da Humanidade, já só havia seis oleiros ativos em Bisalhães.
Daí para cá, um já morreu (Sizenando Ramalho) e dois, com mais de 90 anos de idade, já cessaram a atividade: Manuel Martins, irmão de Cesário, parou de fazer peças; Albano Carvalho, que não é oleiro, mas escultor, também parou de produzir desde que a mulher faleceu.
Assim sendo, só há dois oleiros experientes e com atividade permanente: Querubim Rocha, com 81 anos, e Jorge Ramalho, de 52 anos, filho de Sizenando, que se incompatibilizou com a autarquia e com todos os restantes oleiros. Mas que continua a trabalhar.
Miguel Fontes não faz do barro a sua atividade principal, Leonel Ribeiro passou a fazê-lo desde que se reformou, mas ainda está a aprender, a começar. Mesmo assim, já esteve a vender peças na última Feira de São Pedro – ou Feira dos Pucarinhos, que se realiza todos os anos, em Vila Real.
A Feira de São Pedro continua indissociavelmente ligada ao barro preto de Bisalhães, mesmo que já não haja dezenas de oleiros a espalhar as suas peças na Rua Central da cidade. Há dois anos só lá estiveram Miguel Fontes e Albano Carvalho. No ano passado o escultor Albano já não foi, mas estreou-se com sucesso o novo oleiro, Leonel.
“O futuro do barro preto de Bisalhães continua muito negro. Era mesmo preciso que alguns destes formandos quisessem pegar na atividade. Mas tudo isto, todo o processo, é muito difícil de manter. E de preservar”. Quem o diz é Constantino Fontes, referindo-se às dificuldades físicas e logísticas de todo o processo.
Lídia Pires
Já não estava à espera de poder gogar louça outra vez. Mas ajudo o meu genro sempre que posso”,
Miguel Fontes, porém, é mais optimista do que o pai. E acredita que o saber ancestral que levou o nome de Bisalhães ao mundo vai continuar a ser passado de geração em geração. O pai, Constantino, foi a primeira geração de uma longa genealogia de oleiros que deixou de fazer do barro a sua principal atividade. Mas ele, que também não a tem, não se esquece da primeira infância, em que acordava de manhã ao som de um tio a picar barro para o avô, e que sempre viu o avô paterno, Joaquim Fontes, e o materno, Nascimento Capelas, atrás de uma roda de oleiro a fazer peças de barro.
“A minha maior motivação, acima de tudo, é continuar aquilo que eles viviam, manter o seu legado. Porque eles gostavam verdadeiramente daquilo que faziam”, diz Miguel.
E se os avós não chegaram a ensinar-lhe como se fazia, Miguel está empenhado em mostrar aos filhos como se faz. E o interesse permanente da mais nova, Maria, com apenas oito anos, quase que o faz acreditar que o legado está garantido.
As oportunidades de ver uma cozedura em plena aldeia são cada vez mais raras. Mas Miguel e Leonel dizem que ainda voltam a cozer antes da Feira do São Pedro. As tradições são mesmo para levar a sério, e a património é para se manter.
Mais sobre Bisalhães
Leonel Ribeiro, o mais recente oleiro
Tal como muitos da sua geração, quis fugir à miséria que viu aos pais e escolheu outra profissão diferente da dos pais, dos sogros, dos avós. Leonel Ribeiro foi vendedor de uma grande cadeia de distribuição, onde trabalhou 43 anos. Até que depois da reforma resolveu tentar a arte que viu ao pai e aos avós. Agora, até se arrepende de não ter vindo para casa mais cedo.
Querubim Rocha, o oleiro persistente
De manhã à noite, sete dias por semana, não há dia que Querubim Rocha não se vá sentar atrás da sua velha roda e produzir peças de olaria negra de Bisalhães. Tem 82 anos, trabalha desde os nove. Começou a trabalhar para outros, mas soube ser habilidoso e crescer na arte. Agora está quase sempre sozinho na sua oficina, onde há sempre muitas peças para vender. Ultimamente, aos sábados, começou a ter a companhia do filho.
Miguel Fontes, o mais jovem oleiro
Técnico de informática, funcionário público, foi depois da morte dos dois avós, ambos oleiros, que Miguel Fontes pensou no que iria acontecer ao barro que ainda tinham armazenado. Resolveu experimentar a roda do avô e as peças foram saindo, foram ficando cada vez melhores. Foi durante muitos anos o único oleiro a cumprir a velha tradição de ir vender a louça na Feira dos Pucarinhos, que se realiza todos os anos por altura do São Pedro no centro da cidade de Vila Real.
Lídia Pires, a mulher do oleiro
O papel das mulheres na olaria de Bisalhães foi sempre fundamental, mesmo que quase invisível. Afinal, elas é que faziam tudo: preparavam o barro, iam à lenha, decoravam as peças, vendiam-nas. Os homens não saíam de trás da roda, e elas faziam tudo o resto – e ainda tinham energia para dançar. Viúva há mais de 20 anos, Lídia Pires regozija-se com a investida que o genro começou a fazer na olaria.
Cesário Martins, o mais velho na arte
Foi militar da Guarda Nacional Republicana, cargo que desempenhava com empenho e zelo, mas nunca descurou a arte que sempre viu fazer toda a gente da sua aldeia. Com 91 anos, continua a levantar-se todos os dias para se sentar junto à velha roda onde já fez um incontável número de peças. Agora faz peças mais pequenas, e coze louça cada vez menos vezes. Mas não quer parar.
Albano Carvalho, o escultor
Com 91 anos de idade, desde que enviuvou, há pouco mais de um ano, que Albano carvalho, o escultor de Bisalhães como todos o conhecem, nunca mais pegou no barro. Ainda tem um balde cheio, preparado pela mulher. Mas a morte da companheira de toda uma vida tirou-lhe a vontade de “continuar a inventar”. “Nunca ninguém me ensinou”, explica.