Guia com tudo o que precisa saber para visitar Jarmelo, no concelho da Guarda. Inclui o que fazer na aldeia de Ima e arredores – atividades, trilhos e passeios -, onde ficar hospedado, gastronomia e contactos úteis.
O que fazer em Jarmelo
Visitar o Castro do Jarmelo…
O Alto do Jarmelo é um dos locais mais importantes para toda a população do Jarmelo. Nas palavras do ex-autarca Agostinho da Silva, “o alto do monte significa vir à missa, vir ser batizado, vir casar e vir ser sepultado.” É lá que se localizam as duas igrejas da freguesia, além da antiga Casa da Câmara e, claro, do chamado Castro do Jarmelo.
A esse respeito, atente nas palavras escritas numa placa informativa presente no local.
Tudo somado, visitar o Alto do Jarmelo – e o seu Castro – é atividade fundamental para quem quiser conhecer bem a região. Mas não é tudo. As traseiras da antiga Casa da Câmara guardam uma surpresa de ferro.
… e apreciar a escultura de Rui Miragaia
Criada em 2005 pelo artista local Rui Miragaia no âmbito das comemorações dos 650 anos da morte de Inês de Castro, por encomenda da Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo, a obra é constituída por sete esculturas de ferro que representam o assassinato de Inês de Castro, recriando o quadro pintado no início do século XX por Columbano Bordalo Pinheiro intitulado, precisamente, “O Assassínio de Inês de Castro”.
As peças figurativas têm cerca de três metros de altura e retratam o rei D. Afonso IV, Inês de Castro e os seus dois filhos, e ainda os assassinos Pêro Coelho, Diogo Lopes Pacheco e Álvaro Gonçalves, conselheiros do monarca. Vale a pena conhecer.
Percorrer as aldeias e conviver com os seus habitantes
Como sempre, as pessoas fazem os destinos. E isso é especialmente verdade em lugares pequenos, nos chamados territórios de baixa densidade. Ora, tal como já tinha sentido em Campo Benfeito, por exemplo, há algo nas pessoas que faz o visitante sentir-se imediatamente bem-vindo. Mas na aldeia de Ima, no Jarmelo, essa sensação atinge um outro patamar.
Pessoas como Odete Antunes e o irmão Duarte, como o capitão Mateus Trindade ou o ex-autarca Agostinho da Silva, passando pelo casal Imelda e Mateus Miragaia, que habitam na vizinha aldeia de Donfins, ou ainda pelos novos habitantes Samuel, Paul e Karima e a restante equipa do projeto LAR – Love and Respect, todos eles me fizeram sentir verdadeiramente em casa.
E o melhor de tudo é que há algo de especial no ambiente da aldeia de Ima. A forma como as pessoas se relacionam entre elas é muito bonita, muito próxima e humana – como sempre deveria ser. Deixe-se, pois, contagiar por essa energia positiva que povoa as ruas de Ima…
Fazer o Trilho Rota do Castro do Jarmelo (PR1 GRD)
Além de explorar as aldeias do Jarmelo, outra das coisas mais interessantes a fazer é calcorrear um dos vários percursos pedestres existentes na região.
Entre eles, destaque para a Rota do Castro do Jarmelo (PR1 GRD), um percurso extenso mas relativamente fácil que “se desenvolve em ambiente maioritariamente rural e natural, onde poderá descobrir vestígios da ancestral ocupação” da região.
Trata-se de um percurso circular, com início e fim no Jarmelo, onde predominam essencialmente matos rasteiros e afloramentos rochosos, embora possua, a espaços, trechos com vegetação mais frondosa. Tem passagem nas aldeias de Montes, Gonçalo Bocas e Ima, pelo que poderá, naturalmente, começar o percurso em qualquer uma delas.
Encontra mais detalhes sobre a Rota do Castro do Jarmelo no folheto informativo editado pela Câmara Municipal da Guarda.
Conhecer o trabalho do ferreiro Mateus Miragaia
Mateus Miragaia é um ferreiro de Donfins, uma pequena aldeia localizada a apenas 1.500 metros de Ima. Conversador nato e permanentemente bem-disposto, Miragaia é o único ferreiro em Portugal que ainda produz tesouras para a tosquia de forma totalmente artesanal.
E não se pense que isso o incomoda. Quando lhe perguntei se tinha pena que ninguém continuasse a sua arte, desarmou-me com a sua sábia resposta: “Não tenho pena porque agora já não dá para viver disto; foi uma época”.
Para mim, privar com Mateus Miragaia foi dos momentos mais marcantes da minha estada em Jarmelo. Um homem simples, conversador e bem-disposto, com quem muito se aprende sobre a arte de fazer tesouras e sobre o passado e presente da vida em Jarmelo. Imprescindível!
Para visitar a oficina de Mateus Miragaia e, quem sabe, comprar uma tesoura de tosquiar, entre em contacto com o artesão ou a sua esposa Imelda pelos telefones (+351) 927 889 593 ou (+351) 271 963 292.
Visitar o centro histórico da Guarda
Estando na região, seria impensável não aproveitar para conhecer a cidade da Guarda. Tal como toda a região serrana envolvente, a Guarda é marcada pelo clima de montanha e pelo frio que permite a cura e produção artesanal de fumeiro e queijaria de altíssima qualidade. Mas não só.
Para o viajante, o centro histórico da Guarda é uma área especialmente atraente. É lá que pontificam a Sé Catedral e a Praça Luís de Camões, a Judiaria, a Igreja da Misericórdia e o Museu da Guarda, ou ainda o pouco que resta do Castelo da Guarda, entre muitos outros atrativos. Mas há também o excelente Parque Urbano do Rio Diz, indispensável para todos os que viajam com crianças.
Tudo somado, não deixe de conhecer a cidade da Guarda – a cidade mais alta de Portugal!
Percorrer os Passadiços do Mondego
Os Passadiços do Mondego, com inauguração prevista para março de 2022, “pretendem dar a conhecer a paisagem e o património ambiental e histórico das aldeias do Vale do Mondego”, incluindo as aldeias de Vila Soeiro, Trinta e Videmonte.
O trilho é alegadamente “inspirado nos trilhos da pastorícia e nas fábricas de lanifícios do Vale do Mondego”, e procura ser um atrativo turístico para captar mais visitantes para a região da Guarda. Fica a sugestão de passeio – para fazer com todo o respeito pela Natureza e meio envolvente.
Aldeias Históricas
Há, nas proximidades da Guarda, um punhado de aldeias históricas que vale a pena visitar e, com isso, prolongar a sua estadia na região.
Num raio de 50 km a partir de Jarmelo, facilmente se chega a aldeias ricas em história e património. São disso exemplo as aldeias de Almeida, Belmonte, Castelo Rodrigo, Sortelha e Trancoso (membros da rede de Aldeias Históricas de Portugal); ou ainda a aldeia do Juízo. Estando na região da Guarda, é aproveitar!
Como chegar a Ima (Jarmelo)
Localizada a dois passos da cidade da Guarda, a região conhecida como Jarmelo é facilmente acessível com carro próprio, mas não em transportes públicos.
Assim, e tendo a cidade do Porto como referência, são sensivelmente 200 km de distância quase sempre em autoestrada, pela A1 e A25, até à cidade da Guarda. Daí, não tem que enganar: basta seguir pela N16 em direção a Castro do Jarmelo, virando um pouco antes para Ima (há placas indicativas). No total, conte com 207 km e cerca de 2h10 de viagem até à aldeia de Ima.
Gastronomia e onde comer
Não há restaurantes em Ima e, infelizmente, não tivemos grandes experiências gastronómicas nas aldeias vizinhas. Mas valerá a pena fazer algumas refeições nos muitos e bons restaurantes da Guarda.
Dito isto, num dos dias fui jantar a um restaurante muito simples chamado O Pipas, à entrada da Guarda, e posso dizer que fiquei agradavelmente surpreendido. Trata-se de um tasco normalíssimo, mas a relação qualidade/preço é extraordinária. Paguei apenas 7€, ao jantar, por sopa, prato (doses enormes), bebida e café.
Quanto às especialidades gastronómicas da região, destaque para a sopa de castanha e para pratos de carne como os enchidos da Guarda e o bucho com grelos, entre outros. E, claro, não deixe de provar os doces e chutneys tradicionais feitos pelas pessoas envolvidas no projeto LAR – Love and Respect.
Onde ficar em Ima
Apesar da reduzida dimensão da aldeia, há uma unidade de alojamento local no coração da aldeia. Chama-se Casas da Ima (★ 9.7) e é absolutamente recomendável.
Alternativamente, há um punhado de excelentes alojamentos num raio de poucos quilómetros, que vale a pena considerar, nomeadamente na cidade da Guarda. Desde logo, o excelente Solar do Alarcão (★ 9.1), localizado a dois passos da Sé Catedral; ou, em registos distintos, o muito popular Hotel Santos (★ 8.6) ou o agradável Lusitânia Congress & Spa (★ 8.6). Ficará bem hospedado em qualquer um deles.
Em todo o caso, pesquise alojamento na região usando o link abaixo. Note que, especialmente durante o verão e caso queira ficar num hotel específico, é aconselhável reservar com alguma antecedência.
Quantos dias dormir na aldeia
Depende, obviamente, do objetivo da visita. Como turista, um dia já dá para ficar com uma excelente ideia dos vários lugares que compõem a freguesia do Jarmelo São Pedro; conhecer o castro, fazer um percurso pedestre e mais um ou outro passeio. No entanto, se puder ficar um fim de semana completo e dormir uma ou duas noites na região, terá oportunidade de vivenciar um pouco melhor a vida na aldeia e, quem sabe, até visitar a Guarda e alguma das aldeias históricas.
Seguro de viagem
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Mais sobre Jarmelo
Jarmelo: a forjar as aldeias do futuro
Já foi um castro e vila medieval. Hoje, o Jarmelo, na Guarda, é sobretudo um território de pequenos povoados dispersos com o alto do monte, o alto de Jarmelo, a uni-los. Jarmelo é também terra de ferreiros – é lá que vive o último fazedor de tesouras de tosquia – e é terra de inclusão. Em Ima, está a decorrer um projeto-piloto de integração e migrantes e refugiados.
Bárbara Moreira, a sonhadora
Bárbara Moreira nasceu e cresceu no Porto, teve sempre uma vida urbana. Mas em 2018, com 28 anos de idade, mudou-se para Ima do Jarmelo para concretizar o projeto LAR, de apoio à integração de migrantes e refugiados. Convenceu os moradores da aldeia a cederem casas e terrenos, fez parcerias e contratos e criou na aldeia postos de trabalho.
Mateus Miragaia, o ferreiro
Mateus Filipe Miragaia é o último fazedor de tesouras de tosquia. Aos 80 anos, o “velho da martelada”, como se auto-intitula, ainda acende a sua forja em Donfins para fazer tesouras. De rosto feliz e gargalhada fácil, foi homem de trabalho a vida toda.
Karima Javaid, a recém-chegada
Ugandesa, casada com um paquistanês, Karima fugiu da violência de Kampala para a Europa, com dois filhos nos braços. Chegou à Alemanha em 2016 e a Portugal em 2019. Em Lisboa, enquanto esperava a regularização, nasceu-lhe mais uma filha. Chegou a Ima, no Jarmelo, em outubro de 2020. Nunca tinha vivido numa aldeia, e agora diz que não quer ir para mais lado nenhum.
Agostinho da Silva, o apaixonado
Professor de artes visuais, sindicalista, ex-presidente da Junta de Freguesia, Agostinho da Silva nasceu em Ima e respira Jarmelo por todos os poros. Ainda não mora lá, mas vai lá quase todos os dias. Envolve-se nas atividades culturais, recriativas e desportivas e foi um dos grandes entusiastas do projeto de acolher migrantes no território.
Odete Antunes, a vizinha
Com 83 anos de idade, Odete Antunes não conhece outra vida que não a de tratar da casa e andar na lavoura, cuidando das colheitas e dos animais. E nunca quis outra. Nascida numa família de sete irmãos, só ela e o irmão Duarte, com 86 anos, escolheram continuar a viver na aldeia. Ela, a trabalhar em casa e no campo; ele na forja, a suceder ao trabalho do pai.